Contra as orientações do Ministério da Saúde, que recomenda vacinação em pessoas acima de 18 anos, pelo menos duas cidades começaram esta semana a vacinar adolescentes. Betim, em Minas Gerais, deu início nesta quarta-feira à imunização de estudantes. Já Cacoal, em Rondônia, iniciou na segunda-feira a imunização de adolescentes com comorbidades.
Nas duas cidades, a vacina utilizada foi a da Pfizer. No último dia 11, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizou a aplicação da vacina da Pfizer contra a Covid-19 para maiores de 12 anos.
No entanto, o Ministério da Saúde informou ao G1 que a ampliação da vacinação para adolescentes acima de 12 anos ainda está "em discussão" e que "a prioridade é vacinar todos os grupos prioritários estipulados pelo Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação contra a Covid-19 e imunizar toda a população acima de 18 anos", o que não foi feito ainda em Betim ou Cacoal. A cidade mineira vacina no momento pessoas com 59 anos e em Cacoal entre 53 e 57 anos.
A pasta reforçou que "a orientação é para que estados e municípios sigam o que é recomendado pelo Ministério da Saúde", embora gestores locais tenham autonomia.
Para o infectologista Renato Kfouri, do Departamento de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), a medida não faz sentido, "pois são grupos pouco acometidos pelas formas graves da doença”.
"Raramente uma criança ou adolescente será hospitalizado ou vai morrer. Priorizar esse grupo que transmite (o vírus) e adoece pouco é um equívoco quando há grupos mais importantes a serem vacinados", diz Kfouri.
A epidemiologista Carla Domingues, que coordenou o Programa Nacional de Imunizações de 2011 a 2019, avalia que aplicar as doses nesse grupo é um desperdício.
"(Isso) é desperdiçar doses. Essas vacinas estão sendo distribuídas para vacinar grupos com comorbidade, a população acima de 50 anos, que efetivamente tem maior risco de adoecer, ter complicações e morte. Sequer terminou esse grupo [em Betim] e já vão vacinar adolescente, com menor risco", afirmou a especialista ao G1. "A bagunça está generalizada. Não há nenhum critério, cada um fazendo o que pensa".
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Retomada das aulas
Em Betim, já estão sendo vacinados alunos da rede municipal, dos 12 aos 14 anos. A expectativa é a de imunizar aproximadamente 19 mil alunos. Ao longo da semana, a prefeitura vai abrir um cadastro para que as instituições estaduais e privadas inscrevam seus respectivos estudantes. O prefeito Vittorio Medioli (PSD) afirmou que, após a vacinação dos professores, esse é “mais um passo no planejamento de retomada às aulas”:
“Já perdemos o ano letivo de 2020 e temos que fazer um esforço para recuperar e não perdemos também este ano. Por isso, a vacina da Pfizer que chegar no município será destinada aos estudantes. Começaremos pelas regiões mais afastadas e mais carentes da cidade. Com os professores e alunos vacinados com a primeira dose, poderemos avaliar as condições de retomar com as aulas (ensino semipresencial) no mês de agosto", informou Medioli, em nota.
A dona de casa Marilene Pereira, de 33 anos, e a filha Isabella dos Santos, de 12, foram as primeiras da fila na Escola Municipal Jorge Afonso Defensor, em Betim.
"Madruguei [na fila] porque acho importante. Ela vai ser a primeira da família. A minha vez ainda nem chegou, mas eu agradeço muito ter chegado a hora dela", disse Pereira ao G1.
Em Cacoal, na segunda-feira, foram vacinados 350 adolescentes com comorbidades, doenças crônicas ou deficiência psicomotora.
O prefeito Adailton Furia (PSD) afirmou que decidiu pela imunização porque "mesmo sem esperar a parte formal e burocrática do Ministério da Saúde, entende que as mães e os pais dessas crianças têm pressa em vê-las imunizadas e menos suscetíveis a essa doença".
Em nota, "assegurou que a Constituição Federal o autoriza como prefeito a tomar decisões importantes na vida das pessoas" e que "exerceu o princípio da 'prioridade absoluta' para nossas crianças, adolescentes e jovens".