Muito usados para conter reações da vacina contra a Covid-19, analgésicos em excesso podem causar danos à saúde
Flavia Correia
Muito usados para conter reações da vacina contra a Covid-19, analgésicos em excesso podem causar danos à saúde

Forte dor no braço após a picada da vacina contra a Covid-19 é um dos efeitos adversos mais comuns relatados por aqueles que já tomaram pelo menos uma das doses de qualquer um dos imunizantes. Essa reação é normal, juntamente com outras dores musculares e de cabeça, que são resultado da resposta do seu sistema imunitário à vacina. Diante desses quadros, muitas pessoas fazem automedicação, tomando, principalmente, remédios analgésicos indiscriminadamente.

Recentemente, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) emitiu um alerta sobre medicamentos que podem ser adquiridos sem receita médica e o perigo do uso descontrolado desses remédios.

De acordo com o órgão, o comunicado não visa proibir o uso, mas sim deixar a população atenta quanto às quantidades seguras a serem administradas, o intervalo recomendado entre as doses e por quanto tempo eles podem ser tomados sem que haja maiores riscos ao organismo.

Segundo dados do Conselho Federal de Medicina, 77% dos brasileiros fazem uso de medicamentos sem orientação médica. Em consequência disso, cerca de 30 mil pessoas são atendidas anualmente nas emergências apresentando quadros de intoxicação medicamentosa, de acordo com o Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas. A maior parte das ocorrências têm relação com uso de analgésicos, antiinflamatórios e antitérmicos.

Analgésicos estão entre os remédios mais usados pela população brasileira

De acordo com o Conselho Nacional de Saúde, os medicamentos de maior uso pela população brasileira são: anticoncepcionais, analgésicos, descongestionantes nasais, antiinflamatórios e alguns antibióticos, adquiridos no balcão da farmácia sem nenhuma dificuldade.

Para Murilo Freitas Dias, chefe da Farmacovigilância da Anvisa, uma grande preocupação da Anvisa é quanto ao uso de medicamentos promovidos por propagandas, recomendações de familiares, vizinhos, colegas, que faz parte da cultura do brasileiro e pode levar a risco e, em alguns casos, até a morte. “Esse consumo facilitado pelo acesso de uma parte da população aos medicamentos pode estar conduzindo ao uso indiscriminado de substâncias nocivas ao organismo”.

Maria Eugênia Cury, presidente da Federação Nacional dos Farmacêuticos (Fenafar) e conselheira nacional, acredita que a cultura da automedicação foi introduzida nos hábitos do povo brasileiro de forma deliberada para que o mercado pudesse se expandir. “Existiu um preparo de mercado de medicamento no Brasil, onde durante muito tempo a legislação, as entidades, os órgãos responsáveis e a política de saúde permitiram que a indústria farmacêutica tivesse como criar o seu próprio espaço para ter mercado de medicamentos. Então, a exigência da receita médica ficou no papel. Houve responsabilidade de todos os lados para que este hábito se tornasse grave como está agora”, diz.

Efeitos adversos dos principais analgésicos usados no Brasil

Segundo o Formulário Terapêutico Nacional produzido pelo Ministério da Saúde, o ácido acetilsalicílico, a dipirona, o ibuprofeno e o paracetamol são os analgésicos de maior uso no país. Eles modificam mecanismos periféricos e centrais envolvidos no desenvolvimento de dor e são indicados por tempo curto, particularmente para dores de tegumento leves e moderadas. 

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“Todos os analgésicos não-opioides têm igual eficácia no tratamento de dores agudas e crônicas de intensidade leve a moderada”, diz o documento. “Sua escolha tem por base a segurança, conveniência de uso e facilidade de acesso. A segurança decorrente de comparação é critério indispensável para uso desses agentes. Uma vez que nenhum fármaco é inócuo, é considerado risco aceitável aquele que pode ser previsto e, por isso, mais facilmente evitado ou controlado”.

Entre os riscos envolvidos em cada um desses medicamentos, destacam-se:

Ácido acetilsalicílico : pode induzir o aparecimento de pirose, anorexia, náusea, dispepsia (mais frequentes), sangramento, gastrite e erosões gástricas (raras), decorrentes da inibição do efeito citoprotetor gástrico das prostaglandinas.

Dipirona : pode causar anemia hemolítica, anemia aplástica, anafilaxia e graves reações cutâneas, além de broncoespasmo, náusea, vômito, sonolência, cefaleia e diaforese. Agranulocitose, reação adversa impossível de ser prevista, não dependente de dose e em potência fatal, ocorre após uso breve, prolongado ou intermitente. É uma reação rara, havendo variedade geográfica para sua incidência. 

Ibuprofeno : são raríssimos os casos, mas pode ocasionar ulceração e sangramento gastrintestinais, reações que são normalmente relacionadas a tratamentos de longo prazo.

Paracetamol : quantidades excessivas do fármaco podem levar a hepatotoxicidade, que se caracteriza pelo desenvolvimento de lesões no fígado.

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