Governo de SP desmobiliza Centro de Contingência da Covid-19 no estado
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Governo de SP desmobiliza Centro de Contingência da Covid-19 no estado

Na esteira de decisões de flexibilização de medidas de combate à pandemia no estado, o governo de São Paulo reduzirá a quantidade de membros do Centro de Contingência do Coronavírus, grupo de cientistas que aconselha a gestão desde o começo da crise sanitária. Os 21 especialistas foram avisados na última sexta-feira pelo governador João Doria (PSDB) que um novo grupo será organizado, com uma quantidade menor de integrantes.

À reportagem, seis membros confirmaram que há mudanças em curso. Em nota, o governo estadual também confirmou confirmou a decisão.

"Frente à queda de casos, internações e mortes pela doença, neste novo contexto epidemiológico, estes especialistas que atuam em hospitais e na Academia têm diante de si outras demandas também fundamentais para assistir a população e contribuir com a Medicina brasileira e internacional. Assim, atendendo também às necessidades dos integrantes, o grupo técnico de apoio ao Estado será mantido com sete profissionais, o que não representa demérito aos demais. Todos permanecem em contato com o Governo e agradeceram ao Governador e aos membros do colegiado, reconhecendo a importância do trabalho conjunto nesta missão coletiva", justifica o Palácio dos Bandeirantes.

O governo paulista criou o Centro de Contingência em fevereiro de 2020, logo após a confirmação do primeiro caso no país, para monitorar e coordenar ações contra a propagação do coronavírus no estado. Desde então, com reuniões periódicas, ele tem orientado as medidas de combate à Covid implementadas no estado.

Os participantes do conselho científico, em sua maioria, não recebem pela participação nem têm cargos ligados ao Palácio dos Bandeirantes. Esses voluntários são nomes reconhecidos na comunidade médica e acadêmica que discutem as diretrizes do governo, mas não têm o poder de defini-las nem de vetá-las. A palavra final no combate à Covid é sempre do governo estadual. Esse modelo de comitê de crise existe também em alguns estados e cidades do Brasil, mas não há um equivalente no governo federal.

Quando Doria se reuniu com os membros do Centro de Contingência na última sexta-feira pela manhã, por videoconferência, para avisá-los da descontinuidade dos trabalhos, a estrutura do comitê, localizada na Sala Anchieta do Palácio dos Bandeirantes, já havia sido desmontada. Ao GLOBO, membros do conselho disseram ter sido pegos de surpresa.

A desarticulação do grupo não é comentada abertamente pelos integrantes. Um integrante afirmou reservadamente que ficará na nova formação um grupo mais afinado com as decisões políticas do governo. O comitê tem uma reunião nesta terça-feira para decidir quem deve continuar. Doria planeja o anúncio oficial no dia seguinte.

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Os postos serão reduzidos de 21 para sete especialistas. Em nota, o governo afirma que os próprios membros escolherão quem ficará. "Importante informar que o governador João Doria delegou aos especialistas a escolha dos sete profissionais que continuam a integrar o grupo", escrevem.

"O Governo do Estado de São Paulo agradece e enaltece o trabalho dos 21 membros do Centro de Contingência de COVID-19 que contribuíram de forma pró-bono desde o início da pandemia para o combate à doença, sempre com base na Saúde e na Ciência para adoção das melhores práticas preventivas e assistenciais para salvar vidas. O Estado foi pioneiro na constituição de um grupo do tipo no Brasil, criado inclusive dez meses antes dos Estados Unidos pelo governo do democrata Joe Biden", informam ainda.

Hoje o grupo enfrenta divergências principalmente em relação à organização e realização de eventos que podem causar aglomerações. Os casos mais citados são os jogos de futebol e Fórmula-1, mas não só. Alguns especialistas entendem que a volta dessas atividades só deveria ocorrer após a imunização da população com a segunda dose da vacina contra o coronavírus.

A preocupação mais evidente dos cientistas é a disseminação da variante Delta. É dado como certo entre o grupo que haverá aumento das taxas de transmissão da Covid-19 e de casos em São Paulo nas próximas semanas, mas ainda há dúvidas se isso impactará no aumento de hospitalizações e óbitos no estado. Se essa hipótese se confirmar, os especialistas entendem que a programação de volta dos eventos com aglomerações deve ser adiada.

A reformulação do conselho científico vem num momento em que a cidade de São Paulo tem 99% dos adultos vacinados contra a Covid-19, de acordo com a prefeitura. O estado, que deve atingir a taxa nesta semana, passa por uma onda de reabertura da economia.

A partir desta terça-feira, não haverá mais restrições ao funcionamento do comércio, sem limites de público nem de horário de operação. A decisão de ter uma ocupação de 100% dos espaços a qualquer hora é vista com cautela por especialistas, inclusive por membros do próprio Centro de Contingência.

Nesta segunda-feira, Doria anunciou ainda que a etapa de São Paulo da Fórmula-1, prevista para 7 de novembro, deverá receber 100% do público. Ele também afirmou que estádios de futebol podem começar a receber torcedores a partir de 1º de novembro. Enquanto isso, a pandemia deixa, em média, cerca de 260 mortos por dia no estado, que soma 143 mil óbitos pela doença desde março de 2020.

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