Com mais de 30 casos e internações, Amazonas vive surto da doença da urina preta
Foto: Reprodução/ Ulrike Leone/ Pixabay
Com mais de 30 casos e internações, Amazonas vive surto da doença da urina preta

Um cozido de pirarucu é apontado como a principal causa da internação de dois filhos da faxineira Dayana Vasconcelos Lima, de 36 anos. A criança e o adolescente, com 10 e 12 anos, foram diagnosticados com rabdomiólise, uma síndrome associada à doença de Haff,  conhecida como "doença da urina preta". A principal causa da enfermidade é a ingestão de peixes e crustáceos. Eles estão há mais de uma semana sob cuidados da equipe médica do Hospital Regional José Mendes, situado em Itacoatiara, a 176 quilômetros de Manaus.

"Eu ganhei o pirarucu de presente e fiz o jantar para eles, em casa. A gente comeu o peixe e na mesma noite o Miguel começou a ficar mal, mas eu não imaginava que seria isso (rabdomiólise). Ele melhorava e piorava durante a noite. No sábado ele falou que não aguentava mais de fraqueza e então levei para o hospital", disse Dayana.

Miguel sentiu dor de estômago e de cabeça, teve diarreia, fraqueza muscular nas pernas e braços. A urina do adolescente escureceu mas não chegou a ficar preta. Na segunda-feira, seus irmãos de 10 e de 14 anos também apresentaram os sintomas e foram para o hospital. A mais velha foi liberada no mesmo dia, mas o menor permanece internado com a síndrome.

"A melhora é bem lenta. Os médicos disseram que a infecção diminuiu, mas eles ainda estão com infecção urinária. Mas sem previsão de alta, provavelmente daqui uns três ou quatro dias", afirmou a faxineira.

O caso da família de Dayana não é o único em Itacoatiara. O município é o epicentro de um surto da doença da urina preta, com 29 casos de rabdomiólise notificados. De acordo com a Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas – Dra. Rosemary Costa Pinto (FVS-RCP), há ainda duas pessoas com a síndrome em Manaus, uma em Caapiranga e outra em Autazes.

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Do total de contaminados, 18 permaneciam internados neste domingo, segundo a FVS-RCP. Entre eles duas crianças, justamente os filhos de Dayana. O mais velho foi levado para o hospital em 21 de agosto, algumas horas depois de comer o prato típico da região, no jantar de sexta-feira. O mais novo deu entrada na unidade hospitalar dois dias depois.

Rabdomiólise é uma condição que provoca lesões musculares que liberam substâncias tóxicas na corrente sanguínea. Quando a síndrome aparece após o consumo de peixes, é associada à Doença de Haff. No entanto, pode ocorrer na sequência de traumatismos, atividade física excessiva, infecções, crises convulsivas, consumo de álcool e outras drogas.

"Todos os casos notificados podem estar associados à ingestão de peixes. Ainda não há consenso no meio científico sobre a toxina que contamina os pescados. A Vigilância está se concentrando em detectar precocemente os casos e monitorar para que haja o manejo clínico adequado para os pacientes", disse o diretor-presidente da FVS-RCP, Cristiano Fernandes.

A FVS-RCP informou que segue realizando a investigação epidemiológica do surto. De acordo com Dayana, o pirarucu consumido por sua família estava com bom aspecto, fresco e tinha boa procedência. Há relatos de que os demais pacientes pegaram rabdomiólise após comerem outros tipos de peixes, como tambaqui, pacu e pirapitinga.

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