Diagnostico laboratorial de um suspeito com coronavírus
Divulgação / Josué Damasceno (IOC/Fiocruz)
Diagnostico laboratorial de um suspeito com coronavírus

Um experimento de tubo de ensaio que testou a resposta imune contra o coronavírus no sangue em 69 pessoas concluiu que já se vacinou ou que sobreviveu sem vacina a um caso grave de  Covid-19 tem resposta imune razoável contra novas variantes do patógeno. Aqueles com histórico leve da doença pela  cepa original do Sars-CoV-2, porém, se mostraram bastante susceptíveis.

A conclusão foi descrita em um estudo de pesquisadores da Universidade de Amsterdam, que testaram em laboratório como os anticorpos dessas pessoas reagiam quando expostos a diferentes variantes do vírus. Três cepas do patógeno foram uadas no trabalho: a Alfa (detectada inicialmente no Reino Unido), a Beta (África do Sul) e a Gama (Brasil).

Dessas três, aquela que mais pareceu ter capacidade de driblar a imunidade prévia dos pacientes com histórico de Covid-19 leve foi a Beta. Desse grupo, o soro de 39% dos indivíduos não foi capaz de neutralizar a variante no experimento. Entre os vacinados e pacientes de Covid-19 com histórico de internação, porém, a imunidade se manteve boa por ao menos um mês e meio, quando os pesquisadores colheram o soro dos voluntários.

Em grau menor, isso foi o que se observou acontecer com a variante Gama também (35% de pacientes de Covid-19 leves sem resposta imune adequada contra essa cepa). A variante Alfa foi a que menos mostrou capacidade de contornar os anticorpos.

"Esses dados têm implicações para o grau com a qual a imunidade pré-existente pode proteger contra infecções subsequentes pelas variantes de preocupação, para a possibilidade de modificações nas vacinas para aumentar a cobertura imune e para o uso de terapias de anticorpos monoclonais contra o Sars-CoV-2", escreveram os pesquisadores.

A descrição dos resultados do exerimento foi publicada hoje em um estudo na revista Science Advances, liderado pelo imunologista Tom Caniels.

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"Uma questão importante que se destaca é o que mais o vírus nos reserva. As variantes de preocupação, caso não sejam mantidas sob controle, vão evoluir mais e continuar a escapar da imunidade de anticorpos induzida por infecção ou vacinação?", escrevem os pesquisadores.

Outra implicação do estudo é colocar ainda mais ressalvas contra a controversa estratégia de deixar pessoas jovens se infectarem pela doença na esperança que elas ajudem a população a construir imunidade coletiva. Governos que chegaram a estimular essa estratégia (incluindo o britânico e o brasileiro) foram muito criticados pela comunidade científica.

O novo estudo mostra que essa tentativa de força o surgimento de uma imunidade rebanho por exposição deliberada de pessoas ao vírus não apenas põem idosos em risco desnecessário como acabaria sendo eventualmente sabotada pela emergência de novas variantes.

Vacinas sob medida

Os cientistas também afirmam no estudo que suas conclusões apontam para uma provável necessidade de que, num futuro breve, vacinas tenham de ser projetadas com base na estrutura proteica das novas variantes, e não do vírus original que surgiu na China.

No estudo holandês, os pacientes vacinados no estudo haviam recebido o imunizante da Pfizer, que consiste de um trecho do RNA (material genético) do patógeno, capaz de treinar o sistema imune para reconhecê-lo e atacá-lo.

O experimento da Universidade de Amsterdam não foi desenhado para comparar a resposta imune de diferentes vacinas, mas os autores do estudo afirmam que essa tecnologia, usada pela Pfizer e pela Moderna, oferece uma vantagem.

"Considerando o tempo que se leva para modificar RNA, comparado a outras plataformas de vacina, as vacinas de RNA podem oferecer vantagens contra a evolução do vírus", escrevem Caniels e seus colegas.

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