Em 10 de agosto, o senador José Serra (PSDB-SP), aos 79 anos, pediu licença médica do cargo para tratar o Parkinson, doença que acomete mais de 250 mil brasileiros. Uma nota oficial, divulgada em suas redes sociais, afirmou: “Após avaliações neurológicas, finalizadas na última semana, Serra foi diagnosticado com doença de Parkinson em estágio inicial, o que requer um período de adaptação à medicação, que também vai tratar do seu distúrbio do sono. O parlamentar encontra-se em bom estado de saúde, mas optou pelo afastamento para que seu suplente, José Aníbal, possa assumir, sem deixar a cadeira de senador por São Paulo em vacância durante o período do tratamento experimental.”
Desde então, Serra tem dedicado o máximo de tempo possível aos tratamentos, que incluem medicação, exercícios e fisioterapia. Na última terça-feira, 14, à tarde, recebeu a reportagem do Globo em sua casa em São Paulo, para falar pela primeira vez de sua condição. Vestia roupa de ginástica e durante a conversa exibiu diversas vezes as mãos para mostrar como os tremores haviam reduzido.
Como o senhor descobriu o Parkinson?
Vi minha mão tremer, ela começou a tremer parada. O dedão principalmente. Percebi na hora. Não foi repentino, isso aconteceu aos poucos. Começou no início desse semestre. Procurei os médicos e eles confirmaram o diagnóstico.
Qual foi sua reação ao receber a confirmação do diagnóstico?
A primeira coisa que passou pela minha cabeça foi: vou me tratar. Fui ministro da Saúde e, por incrível que pareça, não entendo de medicina. Entendo como organizar ações em função da saúde. Mas sei muito bem que tem tratamento bom para o Parkinson quando diagnosticado no início.
O senhor se emocionou?
Não. Me emocionei com a morte do João Sayad. Ontem fui à missa de sétimo dia dele, a Igreja lotada. Ele era uma pessoa com muitos amigos, muito estimada.
Qual tratamento o senhor está usando?
Propola, um medicamento impressionantemente eficaz. Em pouco tempo fez um efeito extraordinário nos tremores. Pratico também exercícios, caminho todos os dias, e faço sessões de fisioterapia diárias. A fisioterapia e a caminhada, na verdade, já faço há muito tempo. Isso é para a vida, não necessariamente para uma doença. Para chegar bem aos 79 anos, a atividade física é fundamental.
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O senhor teve Covid recentemente, chegou a sentir medo?
Não cheguei a ter sintomas da infecção. Mas mesmo se tivesse não teria tido medo. Quando eu era adolescente peguei gripe asiática. Quando morei no Chile, tive tifo. E no caso do tifo, 10% dos infectados têm recaída. Eu tive. Não tenho medo de doença alguma. Um dos ensinamentos interessantes que tive na vida veio de um médico. Quando eu estava com uns 5 anos de idade, tive que tirar as amídalas e naquela época era com alicate, um procedimento bruto. Ele me falou: tudo ficará ficar bem, você vai poder tomar sorvete à vontade depois. Ele tinha razão, tudo ficou bem.
O senhor pediu licença do Senado em agosto por causa do Parkinson. A ideia foi sua?
Foi dos médicos, mas tomada em conjunto comigo. Na hora fiquei um pouco chateado, mesmo concordando, porque sei que estou bem. Não teria tirado a licença se não tivesse que viajar, como o cargo demanda. Eles me sugeriram esse afastamento para eu poder me dedicar o máximo de tempo à minha saúde. Para tratar direito tem de haver tempo.
A sua rotina mudou?
Não vou para Brasília, mas o restante é absolutamente normal. Cuido da minha saúde, leio muito e tenho reuniões de trabalho com minha equipe. Hoje mesmo vou até meu escritório participar de uma delas. Escrevo artigos também. Prefiro o IPad. Há muito tempo não escrevo à mão porque ninguém entende a minha letra. Nem meu sono mudou. Ele continua difícil. Sou assim desde criança, com essa dificuldade. Quando eu deito eu penso: será que eu vou dormir?
O senhor pensa em voltar para a política?
Eu nunca saí da política. Eu só não estou no cargo agora nesse momento para cuidar da minha saúde. Aliás, não fosse o prazo protocolar de 4 meses das licenças eu já teria voltado. Penso no discurso que farei para compensar a minha ausência, marcar a minha posição, com perspectivas para o ano que vem.
O senhor vai se recandidatar ao Senado?
Não duvide disso.
Como o senhor se vê daqui alguns anos?
Militando. Vou militar sempre.