O uso indiscriminado da ivermectina , que não têm eficácia contra covid-19, tem chamado atenção das autoridades de saúde dos Estados Unidos. Enquanto o país observa uma alta no número de casos, o FDA (Food and Drug Admistration), já recebeu mais que o dobro de notificações de intoxicações graves causadas pela substância antiparasitária.
Segundo o Financial Times, até agora, a agência reguladora recebeu 49 notificações de intoxicação ou reações adversas graves relacionadas ao consumo em pessoas infectadas com o novo coronavírus. Durante todo o ano de 2020, foram 23 casos.
Se observados os números gerais, independentemente da covid-19, a estatística também aumentou. Em 2021, até este mês, foram 110 notificações, ante 99 em todo ano de 2020.
De acordo com o jornal norte-americano, o aumento na procura por esse medicamento pode ser relacionado com a promoção por analistas conservadores como um tratamento, embora o medicamento não seja aprovado para este fim.
Estudos preliminares chegaram a sugerir que ela poderia reduzir a mortalidade dos pacientes com covid-19, mas o FDA analisou que os dados atuais não sustentam a liberação da prescrição e não o aprovou. A Merck, que fabrica o medicamento, também afirmou que não há base científica para o uso a partir de estudos pré-clínicos.
A ivermectina pode ser usada por humanos em pequenas quantidades para o tratamento de vermes, parasitas e piolhos, mas é muito mais usada para tratar animais.
No Novo México, as autoridades investigam se a morte de duas pessoas com covid-19 estão relacionadas a uma eventual overdose. Desde dezembro, o estado registrou 26 overdoses em razão do medicamento. Nos meses anteriores, foram 11.
Doses muito altas da ivermectina podem causar alucinações, convulsões, tontura, distúrbios nervosos, formigamento e até mesmo levar o paciente ao coma, alertou a diretora do Centro de Informações e Medicamentos do Novo México, Susam Smolinske.
"Pare com isso"
Há alguns dias, o FDA foi às redes sociais apelar para que a população não utilize o medicamento. "Você não é um cavalo. Você não é uma vaca. Sério pessoal. Pare com isso", dizia a postagem.
Ao Financial Times, o pesquisador do Centro Johns Hopkins de Segurança e Saúde, Amesh Adalja, se mostrou preocupado com os dados. "Algumas pessoas estão recebendo prescrições oficiais de médicos e usando as doses humanas padrão, usadas para infecções parasitárias. Outras, obtendo a versão veterinária do medicamento e usando doses que não são calibradas, orientadas para humanos", disse.
O jornal lembra ainda que a ivermectina foi politizada e promovida pelo ex-presidente Donald Trump, que também incentivou o uso da hidroxicloroquina - outra substância que não tem eficácia comprovada.