Enquanto os países se apressam para imunizar suas populações contra a Covid-19, uma corrida silenciosa acontece nos laboratórios e centros de pesquisa, longe das atualizações diárias no número de doses aplicadas: o desenvolvimento de vacinas contra a pandemia que transformou a vida no planeta.
Existem atualmente 75 imunizantes em fase pré-clínica e 134 em fase clínica, sendo que 35 já chegaram ao estágio final de teste. No primeiro caso, os estudos são feitos em animais, para que se comprove os dados obtidos em experimentos in vitro. No segundo, o medicamento é aplicado em seres humanos para verificar sua segurança e eficácia.
"Em um tempo curto conseguimos avanços tecnológicos relevantes. Proteger todas as pessoas com os imunizantes que já temos é tão importante quanto melhorar a tecnologia de novas vacinas" afirma o infectologista e epidemiologista Bruno Scarpellini.
O pesquisador cita como iniciativa promissora a Versamune, que vem sendo desenvolvida pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto em parceria com a Universidade de São Paulo. A expectativa é gerar uma memória imunológica de até 12 anos. Essa perspectiva a longo prazo mira no futuro da doença.
"Ninguém imaginava que as vacinas teriam sua duração de eficácia afetada pelas variantes e que durariam poucos meses, é um pouco frustrante para nós", diz.
O especialista, porém, alerta que novas variantes ainda mais potentes podem se tornar dominantes no Brasil e no mundo. E avisa que o surgimento de uma forma resistente às vacinas atuais não é ameaça descartada. A demora na imunização, afirma, pode provocar mutações perigosas ou mesmo a fusão de duas cepas, como a Delta e a Mu.
Em um planeta com circulação cada vez mais intensa entre países e regiões, deter uma ameaça global é uma tarefa de complexidade crescente. Para o especialista, eventos como a Copa do Catar, em 2022, são momentos de especial atenção.
O infectologista ressalta que o trabalho de atualização dos imunizantes contra a Covid-19 será contínuo.
"Os países desenvolvidos calculam que a pandemia vá acabar no meio do ano que vem, mas é apenas uma estimativa. Talvez a gente tenha que aprender a conviver com esse vírus, assim como convivemos com outros. Nessa realidade, a vacina teria atualizações anuais, como acontece hoje com a gripe", compara.