Resultados parciais do estudo encomendando pelo Ministério da Saúde sobre terceira dose para pessoas vacinadas com CoronaVac para Covid-19 indicam que, seis meses depois da aplicação, há uma “queda significativa” nos níveis de anticorpos totais e anticorpos neutralizantes.
A análise dos dados termina este mês e deve ser publicada em revista científica em dezembro e, portanto, os números ainda não podem ser divulgados. Mas a coordenadora do estudo, Sue Ann Clemens, responsável por trazer os estudos da vacina Oxford/AstraZeneca ao Brasil, chefe do comitê científico da Fundação Bill e Melinda Gates, e diretora do primeiro mestrado em vacinologia do mundo, na Universidade de Siena, adianta que o estudo comprova, cientificamente, o que especialistas já alertaram:
"Os níveis de anticorpos caem em todos os grupos, especialmente entre idosos. É significativo", afirma.
O estudo, com 1.200 voluntários, do Hospital São Rafael, em Salvador, e da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), também verificou a eficácia de uma dose de reforço para esses indivíduos usando as vacinas disponíveis no Brasil: Pfizer, Oxford/AstraZeneca, Janssen e a própria CoronaVac.
"Todas as vacinas estimularam o sistema imune, mas o reforço heterólogo, ou seja, feito com vacina diferente, é substancialmente maior", diz Clemens.
O melhor resultado obtido foi com a Pfizer, seguida por Oxford/AstraZeneca, depois Janssen e, por fim, CoronaVac. As vacinas de RNA mensageiro ou vetor viral (as três primeiras) também promovem maior imunidade celular, o que não é o forte da vacina de vírus inativado, a CoronaVac.
"Isso corrobora o que se viu na prática, com aumento de casos no grupo vacinado após seis meses, e nos estudos de efetividade que vêm sendo feitos. É a recomendação, embora haja estados ainda dando a terceira dose da CoronaVac no Brasil, o que só se justifica se não houver disponibilidade das outras. Estamos falando de política de saúde baseada em evidências".
O estudo foi finalizado, mas os pesquisadores podem submeter uma emenda a fim de colher amostras de sangue dos voluntários em seis meses. A expectativa de Clemens é que, com a vacinação heteróloga, a duração da proteção seja maior. Há também a intenção de avaliar a possibilidade do uso de meia dose para reforço, dobrando a capacidade de vacinação.