Covid-19: Em Belford Roxo, apenas 32% da população já tomou a 2ª dose da vacina
Secretaria Municipal de Saúde do Rio d Janeiro
Covid-19: Em Belford Roxo, apenas 32% da população já tomou a 2ª dose da vacina

A cidade de Belford Roxo, na Baixada Fluminense, é uma das cidades com a menor cobertura vacinal do estado, segundo relatório da Alerj divulgado no início do mês. Apenas 32,75% da população total do município está imunizada com o esquema vacinal completo, e 58,32% só tomaram a primeira dose. Belford Roxo está atrás no ranking de vacinação há meses. Em junho, era a cidade da Baixada com a menor cobertura vacinal, tanto de primeira quanto segunda dose.

Na tarde da última quarta-feira, o posto de vacinação da Policlínica Antonino Gomes de Oliveira, no bairro Santa Maria, estava com falta de doses da vacina da AstraZeneca. As pessoas que tomaram a primeira dose deste imunizante estavam recebendo a segunda dose da Pfizer. Desde agosto a Secretaria de Saúde do Estado autorizou a combinação dos imunizantes em caso de falta de AstraZeneca. O bombeiro Wellignton da Silva Polinário, de 38 anos, chegou a procurar a vacina da AstraZeneca, mas não encontrou.

"Em Belford Roxo todo não tem, e acabei tendo que tomar a Pfizer".

O morador do Parque São Vicente acredita que a baixa procura da população pela vacina é porque a campanha atrasou e sugeriu que a prefeitura investisse em divulgação para informar sobre a vacinação:

"Propaganda é fundamental. Porque muita gente nem sabe que está dando a vacina aqui".

O técnico de telecomunicações Carlos Pimentel Ismael, de 39 anos, garantiu a sua imunização com a segunda dose e disse que tem muitos amigos que não tomaram sequer a primeira dose da vacina por medo.

"Muitas pessoas não querem tomar a vacina. Acredito que por medo. Acho que todo mundo tem que tomar para acabar logo a pandemia. Tenho amigos que não tomaram nem a primeira dose".

Ele disse que, infelizmente, não conseguiu convencer os amigos a se imunizarem.

A moradora de Belford Roxo Angélica da Silva, de 40 anos, é uma das pessoas que estava com medo de tomar a vacina, mas se convenceu e buscou o posto de saúde para tomar a primeira dose.

"A gente tem medo, mas tem que tomar", afirma.

Angélica disse que temia as reações da vacina, e que tentou entrar no Fórum de Justiça e não conseguiu por não ter tomado o imunizante, por isso decidiu que tomaria coragem (e a vacina).

O auxiliar de serviços gerais Carlos Leone Novaes relatou que também temia a vacina e que teve algumas reações após a primeira dose, como febre, mas que tomou dipirona e passou. E fez certo. Os chamados “efeitos adversos” das vacinas podem ser tratados com analgésicos comuns, como dipirona, paracetamol e ibuprofeno.

"Saúde em primeiro lugar. Muita gente tem medo de tomar e ter reação. Até eu estava com medo. Reações mentirosas são muito mais fáceis de acreditar que em uma de verdade", disse Carlos.

O casal de estudantes Eduardo Campos Melo e Kayllane Andrade, de 18 anos, retornaram ao posto para a segunda dose. Os dois tomaram a primeira dose da AstraZeneca e a segunda da Pfizer. Eduardo também atribui a mentiras disseminadas sobre a vacina a baixa procura da população:

"Acho que é muita mentira do pessoal falando que a vacina não funciona. Acho que a prefeitura deveria mostrar mais que não tem tanta reação e fazer o pessoal acreditar. Eu saio para alguns lugares e tenho que estar imunizado. É pela minha vida e de outras pessoas também".

Em nota, a prefeitura de Belford Roxo disse que não há problema no fornecimento de vacinas e que a campanha de vacinação atende a população acima de 12 anos, além de aplicar a dose de reforço nos idosos de até 73 anos até o final de semana. A prefeitura diz ainda que faz campanha de divulgação da importância da vacinação nas redes sociais e em carros de som, além dos postos de atendimento.

A campanha de vacinação em Belford Roxo tem sido conturbada. Longas filas e falta de vacinas para os idosos marcaram o início da vacinação na cidade. O Ministério Público do Rio de Janeiro investiga, inclusive, a aplicação sigilosa de vacinas em uma igreja, em agosto deste ano. E o secretário de saúde, Christian Vieira, é acusado pelo MPRJ de improbidade administrativa por campanha de vacinação irregular.

Segundo o MP, a prefeitura desrespeitou os critérios do Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação ao ampliar a campanha de forma desordenada e sem critérios técnicos, como quando determinou a vacinação na sede da Secretaria Municipal de Saúde independentemente da idade, com doses que supostamente teriam sobrado de dias anteriores nos postos de vacinação. Mas, de acordo com o MP, as vacinas poderiam ser aplicadas nos próprios postos.

Em julho, o prefeito Waguinho (PSL) chegou a afirmar que tomaria ivermectina, medicamento antiparasitário sabidamente ineficaz contra a Covid-19, como forma de prevenir a Covid-19 depois de ter tido contato com o prefeito de Duque de Caxias, Washington Reis (MDB), que ficou internado por causa da doença.

Medo de vacina

O infectologista Renato Kfouri, da Sociedade Brasileira de Imunizações, explica que as pessoas deveriam temer mais a doença que a vacina. Segundo o especialista, os possíveis “efeitos colaterais” são leves, transitórios e podem ser resolvidos com analgésicos comuns.

"A vacina é segura, e a doença é muito mais grave. Quem está com medo da vacina deveria ter medo da doença. Os efeitos colaterais que possam ter com a vacina não se comparam aos sintomas de Covid-19. São insignificantes perto dos benefícios. A doença leva para o hospital, afasta da família e coloca sua vida em risco".

O pneumologista da Fiocruz, Hermano Castro, destaca que a maioria dos casos de internações são de pessoas que não tomaram a vacina. Ele também reforça que os “efeitos colaterais” são mínimos e contornáveis.

"Não há por que não tomar vacina por conta de um efeito que é raro. Não é em todo mundo e são contornáveis. E um dado interessante é que 90% dos que estão internados são aqueles que não se vacinaram ou não tomaram a segunda dose. As pessoas que adoecem acabam propagando o vírus também. É disso que estamos falando: de morrer. Não é de ter uma dor no braço'.

O especialista lembra também que ainda não existe nenhum medicamento capaz de prevenir ou tratar a doença:

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"Não existe tratamento precoce para Covid-19. O tratamento que existe é um tratamento de sintomas. Não existe nenhum remédio para Covid. O que existe é a vacina".

Campanha de vacinação

Sobre a baixa cobertura vacinal da cidade, o infectologista Renato Kfouri lembra que é papel dos municípios direcionar ações de vacinação mais específicas e que as prefeituras dispõem de meios para buscar os faltosos.

"É papel dos municípios e dos estados identificar os locais com baixa cobertura e direcionar ações de vacinação mais específicas. É a primeira campanha de vacinação que o Brasil faz com registro nominal. A gente registra quem tomou vacina, onde vive. É muito fácil buscar ativamente os faltosos. Acho que essa é uma vantagem que a gente tem na campanha de conseguir ter acesso e conhecer o perfil dos não vacinados e daqueles que tomaram uma dose só".

Para o especialista da Fiocruz, Hermano Castro, é importante que a prefeitura desenvolva uma campanha mais assertiva.

"A única forma de combater fake news é ter um plano de comunicação nas próprias prefeituras. Os municípios têm o poder de desenvolver uma política de informação. Uma boa campanha de uma secretaria de saúde que possa esclarecer é sempre bom. Tem que fazer uma campanha assertiva para que as pessoas possam aderir à vacinação".

O pneumologista lembra também que os municípios não estão isolados e que uma baixa cobertura vacinal pode ter efeito no controle da epidemia em toda a região metropolitana:

"A cidade do Rio de Janeiro vai começar a liberação do uso de máscaras em ambientes abertos. Acho que um dos maiores problemas é exatamente esse: os municípios do entorno não estão com a vacinação avançada nesse ponto. E as pessoas transitam entre os municípios. Pessoas de Belford Roxo trabalham na cidade do Rio. Isso põe em risco toda a metrópole, porque se o município não avança (na vacinação), de certa maneira está contribuindo para manter a epidemia", destaca Castro.

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