O infectologista Carlos Magno Fortaleza responde às dúvidas mais comuns sobre o vírus
Sarah Pitt - The Conversation*
O infectologista Carlos Magno Fortaleza responde às dúvidas mais comuns sobre o vírus

Depois de sofrer uma nova mutação na Austrália ainda neste ano, o  vírus influenza A (H3N2), que surgiu em Hong Kong, apareceu com carga suficiente para  preocupar as autoridades de saúde do Rio de Janeiro e São Paulo. O aumento no número de casos gerou um alerta sobre o novo surto que pode se alastrar pelo país.

No Rio, já foram contabilizados mais de 23 mil casos da doença. O número de internações em São Paulo subiu para 19 em uma semana (contra 12 registrados em três meses no ano passado). Ontem, a Bahia registrou a primeira morte relacionada ao vírus.

O vírus H3N2 é um dos subtipos do vírus influenza A. Conhecido oficialmente como influenza A (H3N2), esse vírus é sazonal. Ele passou a ser mais conhecido em 2005, ano em que ele começou a circular pelo mundo com mais frequência. Apesar disso, acredita-se que ele surgiu em Hong Kong, em 1968.

Inúmeras são as dúvidas sobre a nova variante do vírus influenza A. Afinal, quais são as diferenças para as outras cepas? Quem faz parte do grupo de risco? Como conciliar a vacinação com a do coronavírus?

O iG  conversou com o infectologista do Hospital das Clínicas da Unesp, Carlos Magno Fortaleza, para sanar esses e outros questionamentos sobre a gripe que assombra os brasileiros. Confira:

Por quais motivos devemos nos preocupar com esta nova variante do vírus influenza A?

A Influenza A causa acometimentos da população mundial todos os anos, em geral nos meses frios. Neste ano, esse acometimento está sendo visto de forma mais precoce, isso não é novidade, já aconteceu em anos anteriores. A preocupação que nós temos é que o Influenza, ou gripe, ela pode causar casos graves e morte especialmente em pessoas idosas e em pessoas com doenças crônicas.

Quais são os sintomas?

Sintomas comuns de um quadro gripal: nariz escorrendo, febre, dor de cabeça, dor muscular, dor de garganta e cansaço exagerado. Em alguns casos, o acometido pode apresentar náusea e diarréia. De qualquer forma, o Influenza se evidencia mais pela rapidez em que compromete o indivíduo, não pelos sintomas.

Quem são as principais vítimas?

As vítimas da Influenza sempre existiram, embora muitas vezes isso tenha passado despercebido. Anualmente, a gripe faz vítimas as pessoas idosas, pessoas com doenças crônicas. Crianças também devem ser observadas com mais afinco.

Como se prevenir do vírus H3N2?

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A prevenção contra o vírus H3N2 é, em parte, igual a da Covid, ou seja, usar máscara, evitar aglomerações, higienizar as mãos e, em parte, tem a ver com a própria vacinação.

A vacina da gripe protege contra o vírus H3N2 (a variante nova, que agora circula no RJ e em SP)? Ou será necessário se vacinar com uma nova formulação?

As vacinas atualmente existentes contra a gripe protegem contra os vírus de Influenza A H1N1 e H3n2, além de Influenza B. No entanto, existem vários subtipos dentro dessas categorias. Então, o subtipo que está circulando atualmente do H3N2 não está nos componentes da última vacina aplicada. Por essa razão, há um certo escape vacinal do subtipo de H3N2 que circula atualmente no Brasil. Naturalmente, na próxima vacinação isso será corrigido, como tem sido feito todos os anos.

Considerando que a imunização não seja completamente efetiva, a vacina disponível atualmente pode ajudar na recuperação ou no atenuamento dos sintomas dessa nova variante?

A vacinação contra a gripe, mesmo que não com exatamente o mesmo subtipo de H3N2, ela representa algum tipo de proteção porque sim, ela sempre contém um tipo de vírus Influenza H3N2.

Existe tratamento precoce?

Diferente da Covid, existe um tratamento amplamente disponível e que, se usado precocemente, pode diminuir quadros graves da Influenza, que é o tratamento com o Oseltamivir, conhecido comercialmente como Tamiflu. Isso diferencia a gripe da Covid, para a qual nós sabemos, hoje em dia, que não há tratamentos precoces facilmente disponíveis em farmácias.

Existe algum sintoma específico que pode ajudar na diferenciação entre a gripe e a covid-19? Ou apenas o teste é capaz de fazer essa distinção?

Em geral, é impossível dizer se alguém com quadro gripal tem Influenza A H3N2 ou se tem Covid. Mas há diferenças possíveis: enquanto a Covid se desenvolve aos poucos, vai ficando grave ao longo dos dias de acometimento, a gripe Influenza costuma acometer de maneira bruta o indivíduo, que de um dia pro outro começa a se sentir mal, com febre, dores no corpo, mal estar geral, nariz escorrendo, dor de garganta.

Apesar dessas diferenças, toda pessoa com quadro gripal deve ser testada para Covid, porque eles podem se confundir.

Quem tomou a vacina contra a covid-19 recentemente, pode tomar a da gripe em seguida? Qual o intervalo recomendado entre as duas vacinas?

Sim. Em geral, recomenda-se um intervalo de 15 dias entre essas vacinas para que os efeitos colaterais de ambas não se somem.

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