A ButanVac, vacina nacional contra a Covid-19 desenvolvida pelo Instituto Butantan, não deve entrar no ciclo vacinal dos brasileiros em 2022 como se imaginava anteriormente. Isso porque os testes com o imunizante, tanto no Brasil quanto fora, ainda estão sendo realizados. A expectativa agora é para que a vacina nacional esteja disponível apenas no ano que vem.
Segundo previsão do próprio Butantan, após ter passado por uma reformulação, o estudo conduzido no Brasil, na Tailândia e no Vietnã avaliou a eficácia da ButanVac como dose de reforço contra a Covid-19. Os resultados da fase 1 mostraram que a vacina é segura e induz níveis elevados de proteção contra a doença.
O imunizante foi anunciado em abril de 2021 pelo governo de São Paulo. Inicialmente, seria feito um ensaio clínico randomizado duplo-cego, comparando a resposta imune de quem tomou a vacina com um grupo controle que tomou uma substância sem efeito (placebo).
Porém, com o avanço da vacinação no país e o atual cenário da pandemia, o estudo precisou ser reestruturado para testar a ButanVac. A partir da mudança, o foco do estudo foi para transformar o imunizante nacional na opção mais viável como dose de reforço, com o objetivo de não depender dos imunizantes que precisam de matérias-primas importadas, uma vez que a ButanVac não depende de insumos internacionais.
“A vacinação do Brasil avançou muito rapidamente e chegou um momento em que não havia mais a possibilidade de inclusão de voluntários [para comparar vacinados e não vacinados]. Isso levou à necessidade de reformular todo o estudo clínico, o que acabou reduzindo a velocidade da pesquisa da vacina”, afirmou o presidente do Instituto Butantan, Dimas Covas.
Resultados até o momento
De acordo com o Butantan, as pesquisas referentes ao imunizante são positivas, o que significa que os resultados obtidos são satisfatórios em termos de segurança e proteção contra as formas graves da doença.
O estudo clínico de fase 1 na Tailândia mostrou que a ButanVac é segura e produz altos níveis de anticorpos IgG. Os números de anticorpos neutralizantes também foram satisfatórios nesta pesquisa.
Já nos ensaios clínicos de fase 1 e 2 no Vietnã, os pesquisadores constataram que a ButanVac, além de segura e imunogênica, produz mais anticorpos contra a Covid-19 do que a vacina da AstraZeneca, uma das mais aplicadas no mundo, com soroconversão de 90% contra 82%. No Vietnã, atualmente, o imunizante está na fase 3 de pesquisa, com uma amostra maior de voluntários.
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Um estudo publicado em janeiro deste ano na plataforma de preprints MedRxiv mostrou também que a ButanVac induziu proporcionalmente mais anticorpos capazes de neutralizar a Covid-19 do que as vacinas de RNA mensageiro, como a Moderna e a Pfizer.
Próximos passos
A primeira etapa dos ensaios clínicos da ButanVac foi finalizada no Brasil e os resultados preliminares de segurança são positivos. Segundo o Butantan, as conclusões consolidadas foram encaminhadas à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que acompanha todo o processo e, com o aval do órgão, as fases 2 e 3 serão iniciadas. A previsão é que o novo ensaio clínico seja concluído ainda em 2022.
“O desenvolvimento da ButanVac tem uma necessidade de adaptação por causa dos ciclos da doença, das novas cepas, da incidência. Precisa evoluir junto com a pandemia e com suas nuances”, contou o diretor médico do Butantan, Wellington Briques.
Para que a vacina possa ser avaliada como dose de reforço, uma das mudanças que precisaram ser feitas foi a exclusão do placebo e a adoção de um comparador ativo em todas as etapas. A comparação está sendo feita com a CoronaVac.
A avaliação entre o desempenho dos dois imunizantes está sendo feita em voluntários que já estão com o esquema vacinal completo. Além disso, outro possível desdobramento das fases 2 e 3 será entender se os anticorpos da ButanVac funcionam contra a variante ômicron. As fases 2 e 3 continuarão sendo realizadas no Hemocentro de Ribeirão Preto e em outros centros de pesquisa.
Como é a vacina
A ButanVac é uma vacina mais simples e efetiva se comparada às de RNA mensageiro. Ela é produzida com ovos embrionados de galinha, o que faz com que seu custo de produção seja mais baixo. O sistema é o mesmo utilizado na vacina contra a influenza (gripe) e é uma especialidade do Butantan: o instituto produz anualmente mais de 80 milhões de doses da vacina da gripe e já domina a tecnologia. Outro ponto positivo é que a ButanVac não depende de insumos estrangeiros, uma vez que o Butantan já domina toda a cadeia de produção no país.
Em teoria, outra vantagem da ButanVac é que ela poderia ser atualizada com novas cepas, da mesma forma que a vacina da influenza. Essa hipótese, no entanto, ainda não foi comprovada.
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