HPV é um vírus transmitido sexualmente que pode causar, entre outras condições, diversos tipos de câncer
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HPV é um vírus transmitido sexualmente que pode causar, entre outras condições, diversos tipos de câncer

Uma doença silenciosa, que pode mostrar suas consequências somente anos após o contágio: esse é o HPV, sigla em inglês para Papilomavírus Humano, que segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), atinge mais de 630 milhões de pessoas.

No Brasil, o Instituto Nacional do Câncer estima que, entre 2020 e 2022, 16,7 mil casos de câncer de colo de útero podem ser causados pelo vírus, que também é precursor de tumores na vulva, na vagina, pênis e ânus.

O especialista Juarez Cunha, presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), alerta que o único caminho para frear os números é a vacinação, que infelizmente, ainda esbarra em alguns preconceitos.

"O HPV atualmente é considerado uma vacina que protege de câncer - temos duas vacinas que protegem do câncer, contra Hepatite B (fígado) e HPV. Infelizmente precisamos melhorar a cobertura, está baixa como todas as vacinas", afirma.

A campanha de vacinação brasileira contra o HPV tem como público-alvo meninas de 9 a 14 anos de idade e para meninos de 11 a 14 anos, sendo necessárias duas doses para total proteção.

"Eles [adolescentes] acabam indo pouco ao posto de saúde, às vezes não são atendidos nem pelo pediatra nem pelo clínico geral, ficam meio 'soltos', sem atenção. Por isso recomendamos vacinar o mais cedo possível, ainda no final da infância", orienta o profissional.

"Muitas pessoas pensam que vacinar estimula a vida sexual. O objetivo da vacina é fechar a porta do câncer, e não abrir a do sexo. É a prevenção de uma doença que pode ser muito grave. Evitaremos doenças que causam muitas mortes, principalmente de mulheres."

Além dos jovens, imunossuprimidos também estão na lista dos beneficiários do SUS - homens de até 26 anos e mulheres até os 45 anos. Adultos saudáveis também podem se vacinar, mas apenas na rede privada.

"A diferença na faixa etária entre homens e mulheres tem explicação: os homens são os principais transmissores do HPV e sintomas como verrugas genitais, caroços ou feridas no pênis, ânus, boca ou garganta aparecem com mais rapidez. Nas mulheres, a evolução da doença é lenta. O câncer do colo do útero, por exemplo, pode surgir de 10 a 15 anos depois do primeiro contato com o vírus do HPV. A vacinação ajuda no controle e redução dos sintomas", explica Amanda Reis, gerente de imunizações da healthtech Beep.

Depois da vacinação, o uso de preservativos em atos sexuais e a realização dos exames preventivos constantes, como o papanicolau, são as melhores formas e evitar o contágio ou iniciar, de forma rápida, o tratamento.

A OMS tem como meta eliminar o câncer de colo de útero em todo mundo até 2030. Segundo o Dr. Juarez, no entanto, os números estão muito abaixo do desejado no Brasil.

"Temos uma vacina que evita câncer subutilizada. Precisamos melhorar as coberturas, que estão muito, muito abaixo. A meta é em torno de 80%. Para a primeira dose de meninas, estamos mais próximos, mas segunda dose, esse número é muito abaixo, em torno de 50%. Para os meninos está bem abaixo, em torno de 50% a primeira dose e 30% a segunda dose".

Questionado, o Ministério da Saúde informou que não tem os dados de vacinação separados por ano desde que o imunizante foi incluído no Calendário Nacional de Vacinação, em 2014.

"Quando se trata da cobertura vacinal do HPV, a Pasta esclarece que são elaboradas por intermédio de uma coorte [estuos de cuho epidemiológico para determinar incidência da doença] desde o ano da implantação dessa vacina em 2014 até 2020", diz a nota.

"Os dados de 2021 estão sendo trabalhados agora para inclusão na coorte. Dessa forma não representam coberturas ano a ano, e sim o acumulado de crianças e adolescentes vacinados desde 2014 até o momento. Atualmente, 7.306.174 do público feminino foi vacinado com a primeira dose e 4.869.496 receberam a segunda dose. Já para o público masculino, 3.551.771 foram vacinados com a primeira dose e 2.824.885 com a dose dois."

** Filha da periferia que nasceu para contar histórias. Denise Bonfim é jornalista e apaixonada por futebol. No iG, escreve sobre saúde, política e cotidiano.

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