O caso de um paciente que teve um segundo diagnóstico positivo para a Covid-19 no intervalo de apenas 15 dias da última infecção foi registrado no Rio Grande do Sul. A análise foi identificada pelo Laboratório de Microbiologia Molecular (LMM) da Universidade Feevale, parte da Rede Corona-Ômica BR – MCTI , monitoramento nacional de amostras do vírus, e divulgada nesta terça-feira.
Segundo o comunicado, as amostras foram coletadas de um paciente de 52 anos nos dias 23 de maio e 8 de junho e foram encaminhadas ao laboratório pela Secretaria Municipal de Saúde de Porto Alegre.
Após o sequenciamento, foi identificado que a primeira contaminação foi pela subvariante da Ômicron BA.1.1, enquanto a segunda foi pela BA.2, o que comprova ter sido um caso de reinfecção e não de um teste positivo mesmo após a doença.
O coordenador da Rede Corona-Ômica Fernando Spilki, virologista da Universidade Feevale, explica que todo mês a equipe da universidade sequencia amostras aleatórias do coronavírus, mas quando é de interesse de prefeituras próximas, são incluídos dados de pacientes específicos na análise.
"Chegou então para nós esse caso de um paciente que teve dois testes positivos com quadros de sintomas muito evidentes e com exames negativos entre eles. Nós sempre ficamos na dúvida se é um caso de recaída, de persistência do quadro, e há apenas uma forma de tirar essa dúvida, fazendo o sequenciamento. E foi o que fizemos, o que mostrou que o primeiro evento foi relacionada à sublinhagem BA.1.1 e o segundo à BA.2, ou seja, duas infecções diferentes", explica o especialista.
De acordo com a Universidade Feevale, os dados estão sendo disponibilizados em bases de dados públicos nacionais da Rede Corona-Ômica BR – MCTIC e internacionais, a GISAID, e serão submetidos para publicação em revista científica posteriormente.
A realidade chama a atenção para o potencial das novas versões da cepa em escapar dos anticorpos gerados por infecções anteriores. Um estudo dinamarquês mostrou que a BA.2 consegue provocar uma segunda contaminação mesmo pouco tempo após o último diagnóstico positivo – num intervalo de 20 a 60 dias.
"Reinfecções sempre ocorreram, mas hoje esse número está muito alto. Normalmente, ocorria a partir de 40, 60 dias da primeira infecção. Mas, desde o início do surto de Ômicron, vemos casos de apenas 30 dias de intervalo, e relatos de outros países de reinfecções de apenas 20 dias. Esse caso foi impressionante, com uma reinfecção em apenas 15 dias e exames negativos entre eles", afirma Spilki.
Essa capacidade de evasão da imunidade é ainda maior entre as novas sublinhagens BA.4 e BA.5, apontam estudos publicados recentemente nas revistas científicas Lancet, Nature e New England Journal of Medicine. Segundo a última análise do Instituto Todos pela Saúde (ITpS), feita com dados dos laboratórios Dasa e DB Molecular, a proporção de casos prováveis dessas subvariantes no Brasil passou de 44% para 79,3% durante o mês de junho.
"Muitas pessoas se perguntam após a infecção por quanto tempo estão protegidas, algumas acreditando até que estão imunes. Mas essa não é a realidade agora, você pode sim se reinfectar. E nós vemos que essas subvariantes estão desenvolvendo uma capacidade cada vez maior de promover novas contaminações", pontua o especialista.
No caso de Porto Alegre, o virologista conta que a segunda infecção apresentou um quadro um pouco mais sintomático que a primeira, mas ambas não levaram à necessidade de hospitalização. Ele explica, no entanto, que não há um padrão em relação a diferenças clínicas entre primeiros e segundos diagnósticos.
"O que nós sabemos até agora é que a vacina tem tido um efeito incrível em reduzir os casos graves, basta observar o número de novos casos e o número, mais baixo, de internações e óbitos", diz o coordenador da Rede Corona-Ômica.