Varíola dos macacos cresce no Brasil sem ação coordenada de autoridades, criticam especialistas
Reprodução/Montagem iG 25.5.2022
Varíola dos macacos cresce no Brasil sem ação coordenada de autoridades, criticam especialistas

Desde 8 de junho, quando o primeiro caso de monkeypox — a varíola dos macacos — foi detectado no Brasil, outras 591 pessoas, além do caso inicial (ou índice, no jargão), testaram positivo para a infecção. É como se, a cada dia, houvesse 14 novos diagnósticos.

A conta, porém, não é exatamente essa: a progressão da doença é crescente. Para se ter uma ideia, foram necessários 28 dias para que o país chegasse ao centésimo diagnóstico. Até que esses cem casos se tornassem 592 — o patamar atual — foram necessários apenas 14 dias.

Especialistas acreditam que, a despeito do avanço da varíola dos macacos, não há uma comunicação eficaz em relação à prevenção e disseminação da doença por parte do Ministério da Saúde e secretarias regionais.

"Faltam informações adequadas e efetivas (sobre a infecção). Além disso, é preciso identificar mais precocemente a doença e ampliar a oferta de exames. Em países mais desenvolvidos, por exemplo, já há a distribuição de vacinas para a população em que o comportamento gera maior ocorrência da doença", afirma Julio Croda, médico infectologista, pesquisador da Fiocruz e professor da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul.

"Aqui, existe a total falta de orientação, e é algo que vai permanecer, sobretudo se a Organização Mundial da Saúde (OMS) não declarar (a infecção) como emergência de saúde pública. Vão negligenciar como fazem com outras doenças."

O Ministério da Saúde, por exemplo, desmontou na semana passada a sala de situação para acompanhar os desdobramentos do surto da infecção causada pelo monkeypox. Trata-se de um comitê — virtual e presencial — em que dados da doença eram avaliados sistematicamente.

A pasta diz que, apesar do fim do serviço, segue em constante monitoramento em relação ao vírus. Especialistas em epidemiologia afirmaram ao GLOBO, contudo, que a sala é um mecanismo fundamental para o controle de uma doença em progressão que ainda precisa ser melhor conhecida.

O estado de São Paulo, líder em casos (são 429) e promotor de coletivas em série sobre a Covid-19, adotou outra postura diante do atual surto e tem preferido falar sobre o tema mais especificamente com especialistas de saúde. Em nota, afirmou que “iniciativas de capacitação desenvolvidas pelo Centro de Vigilância Epidemiológica já alcançaram mais de 3 mil profissionais de saúde de todas as regiões do estado”. Também diz que técnicos atuaram na Parada LGBT+ de São Paulo, no mês passado.

Orientações

Na realidade dos consultórios e no atendimento de emergência, por outro lado, há o necessário cuidado em informar pacientes sobre comportamentos que inspiram risco acentuado para a transmissão.

A esta altura do avanço da infecção — no Brasil e no mundo — os médicos já notaram que os casos são mais prevalentes entre homens que têm relações sexuais com diversos parceiros do mesmo sexo, principalmente. Isso não quer dizer, ratificam os especialistas, que este público é o único suscetível. Todos os que mantêm comportamentos que facilitam a disseminação da doença (caso das relações sexuais com diversos parceiros) podem, sim, ser infectados.

"É preciso comunicar sobre a disseminação dessa doença sem julgar comportamentos. Estamos num momento em que é desejável que seja adotada a conduta de segurança. Uma delas, por exemplo, é reduzir substancialmente o número de parceiros sexuais", diz Jamal Suleiman, do Instituto de Infectologia Emílio Ribas.

Há, diz Suleiman, outra orientação possível: observar se o eventual parceiro apresenta, por exemplo, lesões de qualquer ordem na pele. São elas um importante indicativo da infecção que, vale dizer, tem se mostrado de maneira branda e sem agravamento — mas ainda assim uma doença, cuja prevenção é de primeira importância.

Grupo de estudos

Cabe como boa notícia, portanto, o anúncio de que o Instituto Butantan, em São Paulo, criou um comitê para monitoramento da doença e desenvolvimento de uma vacina. Nos anos 1970, o instituto criou uma versão do imunizante para a varíola humana, que foi erradicada na década seguinte. Segundo a OMS, a mesma vacina tem até 85% de eficácia contra a versão que circula agora, causada pelo monkeypox.

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