A dengue já matou 752 pessoas no Brasil até o dia 25 de julho deste ano — o equivalente a 25 óbitos por semana — de acordo com o Ministério da Saúde. O número supera em 205,6% o total de mortes causadas pela doença em todo o ano passado.
O quantitativo de vítimas fatais ainda pode aumentar. Há 190 óbitos ocorridos entre janeiro e a última semana de julho que ainda estão em investigação. Há a possibilidade de 2022 registrar o maior número de mortes provocadas pela doença nos últimos dez anos, visto que o total de vidas ceifadas contabilizado até o final de julho já é o terceiro maior da série histórica iniciada em 2013.
De acordo com especialistas ouvidos pelo GLOBO, a doença é cíclica, o que leva o Brasil a vivenciar epidemias periódicas: "Ter quase 26 mortes por semana representa a nossa tragédia. A cada dois ou três anos, vivemos uma epidemia da doença, como ocorre agora", lamenta o presidente da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical (SBMT), Julio Croda.
Além do comportamento cíclico da doença, o grande aumento de diagnósticos de dengue entre 2021 e 2022 guarda relação com a pandemia de Covid-19. O isolamento imposto à população ao longo do ano passado reduziu a circulação do vírus da dengue, derrubando o número de casos e, consequentemente, de óbitos causados por ela.
"Alguns estudos demonstraram que houve uma diminuição muito além do esperado em termos dos ciclos da doença", explica o professor de Epidemiologia da Faculdade de Medicina São Leopoldo Mandic, André Ribas Freitas.
A incidência, porém, varia em cada de região. Segundo o último boletim epidemiológico do Ministério da Saúde, o Brasil diagnosticou 1.288.403 infectados pela dengue em 29 semanas deste ano. Isso representa 604 casos por 100 mil habitantes no país. No Centro-Oeste, região mais afetada, foram identificados 1.783,9 casos por 100 mil habitantes — incidência quase três vezes superior à verificada no plano nacional.
No ranking por estado, São Paulo concentra a maior quantidade vidas perdidas neste ano: 233. Depois, vêm Paraná, com 88 mortos, e Santa Catarina, 85. Entre as cidades, Brasília desponta com 59.802 infectados de janeiro a última semana de julho deste ano. Goiânia está em segundo lugar, acumulando 44.947 casos, seguida por Joinville (SC), com 26.545.
Sintomas
Os sintomas clássicos de dengue incluem febre abrupta, geralmente de 39°C a 40°C, e dores de cabeça, no corpo, nas articulações e ao redor dos olhos. Também é comum aparecerem manchas vermelhas na pele, chamadas de exantema. Anorexia, enjoo e vômito são outros sintomas que podem ocorrer.
Especialistas alertam que os pacientes devem procurar atendimento médico, sobretudo caso os sintomas evoluam. É preciso atenção se houver dor abdominal, vômito persistente, desidratação, acúmulo de líquido, pressão baixa, tontura forte, alteração no nível de consciência, como letargia, sangramento nas mucosas e aumento progressivo do hematócrito, ou seja, na concentração de células vermelhas no sangue.
Esses são os chamados sinais de alarme. Já os quadros graves da dengue podem incluir disfunções no coração, nos pulmões, nos rins, no fígado e no sistema nervoso central (SNC).
"Temos um pequeno número de casos com evolução severa. No entanto, quando o número de casos é muito grande, acaba que chama atenção e devemos estar preparados, organizando o sistema de saúde, para detectar rapidamente os pacientes e conseguir colocá-los em ambiente controlado", diz o professor de Saúde Coletiva da Universidade de Brasília (UnB) Jonas Brant.
Apesar do crescimento constatado neste ano, o número de casos de dengue tem caído nas últimas semanas. O motivo é a sazonalidade da infecção, que costuma fazer mais vítimas nos primeiros meses de cada ano, quando há mais chuvas e, portanto, mais água parada nos imóveis Brasil afora.
"Essa queda é esperada neste momento do ano, devido ao inverno e ao momento muito oportuno para que a gente organize o trabalho de contenção e controle do Aedes aegypti (mosquito transmissor da doença)", prossegue o sanitarista.
Na ausência de uma vacina para o público-geral, o foco deve estar na prevenção: o combate ao mosquito, vetor de transmissão do vírus da dengue. As doses só podem ser aplicadas em clínicas privadas e em pessoas que já se infectaram anteriormente. O aval da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) é para a faixa etária de 9 a 45 anos.
Para enfrentar a dengue, o Ministério da Saúde divulgou a distribuição de 68,4 milhões de pastilhas de larvicida para tratamento de depósitos de água e de 5.870kg de inseticida para pontos estratégicos, como borracharias e ferros-velhos, entre outras medidas.
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