Somente um subconjunto que contrai a poliomielite desenvolve sintomas que afetam o cérebro e a medula espinhal
Marcio Alves / Agencia O Globo
Somente um subconjunto que contrai a poliomielite desenvolve sintomas que afetam o cérebro e a medula espinhal

O Ministério da Saúde deu início ontem à Campanha Nacional de Vacinação contra a Poliomielite e Multvacinação, que vai até o dia 9 de setembro.

A meta da pasta é imunizar 14,3 milhões de crianças de 1 a 5 anos contra a poliomielite, conhecida como paralisia infantil. Embora a doença esteja erradicada no Brasil desde 1994, a taxa vacinal vem caindo nos últimos anos.

Além disso, outros países que também não registravam diagnósticos de pólio havia anos identificaram casos recentemente, como os Estados Unidos.

Dados do Sistema de Informação do Programa de Nacional de Imunizações (SI-PNI), gerido pelo ministério, mostram que só 46,9% do público-alvo se vacinou contra poliomielite no Brasil em 2022.

A taxa de cobertura é menos da metade da meta de 95% estipulada pela pasta. Tal patamar foi alcançado pela última vez em 2015.

"Temos todas as doses necessárias. O gargalo está no fato de boa parte das pessoas não irem se vacinar", disse o secretário de Vigilância em Saúde do ministério, Arnaldo Medeiros, ao justificar o lançamento da campanha.

De acordo com o ministério, há cerca de 40 mil postos de vacinação em todo o território nacional. O Brasil identificou o último caso de poliomielite em 1990, mas a enfermidade só foi oficialmente banida quatro anos depois.

Especialistas consideram, porém, que o Brasil convive com um risco concreto do reaparecimento da paralisia infantil, a exemplo do que se ocorreu nos EUA. Depois de dez nos sem infectados, um caso foi identificado em Nova York, no mês passado.

"As pessoas não se vacinam mais porque acham que são doenças que não existem mais. Se essas vacinas deixarem de ser aplicadas e a imunidade de rebanho cair, essas doenças podem voltar a circular", alerta o professor titular de Imunologia Clínica da Universidade de São Paulo (USP) Jorge Kalil.

Entre as principais causas para a baixa cobertura vacinal, de acordo com médicos e estudiosos do tema, está o fato de que muitas pessoas subestimam os riscos que a doença traz, em parte porque jamais tiveram qualquer contato com vítimas de paralisia infantil.

Passadas quase três décadas sem casos no Brasil, as novas gerações têm poucas informações sobre a doença. Os principais sintomas incluem febre, mal-estar, dor de cabeça, de garganta e no corpo, vômitos, diarreia, prisão de ventre, espasmos e rigidez na nuca. Nos quadros mais graves, a pólio pode causar paralisia e atingir músculos respiratórios.

A transmissão do poliovírus se dá pelo contato com infectados, geralmente pela via fecal-oral, mas também por meio de objetos, alimentos e água contaminados com fezes. Gotículas de fala, tosse ou espirro também podem levar ao contágio, que tem na falta de saneamento básico um dos fatores de risco.

Evitáveis pela vacinação, as sequelas vão de dores nas articulações ao pé torto (quando a pessoa não consegue andar porque o calcanhar não toca o chão), passando por atrofia muscular e crescimento das pernas em tamanhos diferentes.

O GLOBO percorreu quatro postos de saúde da região central de Brasília na tarde de segunda-feira e encontrou baixo movimento. O bancário Felipe Andrade levou o filho Noah para atualizar a caderneta num posto de saúde do Cruzeiro, no Distrito Federal.

Com um choro após as doses, o saldo foi positivo — o bebê saiu imunizado contra nove doenças: sarampo, caxumba, rubéola, difteria, tétano, coqueluche, catapora e hepatite A, além da pólio.

"A coisa mais importante do mundo para mim é esse rapazinho", diz Andrade, que defende a importância da vacinação. "Mantenho o cartão de vacinas atualizado. Chegou no prazo, eu trago meu filho para tomar."

O menino Petrônio Alexandre, de 2 anos e 5 meses, recebeu os mesmos imunizantes que Noah

"Devido à pandemia, ele ficou sem tomar algumas vacinas. Mas, depois, eu procurei agilizar (a imunização), num curto espaço de tempo", conta a mãe, a turismóloga Gréta Fialho, que aproveitou a ida ao posto para agendar novas vacinas.

A reportagem pediu tanto ao ministério quanto à Secretaria de Saúde do Distrito Federal (SES-DF) um balanço de doses aplicadas no primeiro de campanha dia. Ambas as pastas informaram que ainda não haviam compilado os dados.

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