Devido à queda na imunidade com o tempo, especialistas da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) passaram a recomendar uma segunda dose anual da vacina contra o vírus Influenza, causador da gripe, para grupos considerados de maior risco para desfechos mais graves da doença. A decisão, anunciada nesta sexta-feira, não se trata de uma diretriz formal que será encaminhada ao Ministério da Saúde, mas sim de um aval para que casos específicos, que se beneficiam da aplicação, sejam orientados a buscarem um reforço.
"O que estamos colocando é uma possibilidade de recomendar uma segunda dose, a partir de três meses após a primeira, para idosos, pessoas com comorbidades e imunossuprimidos, que estão em maior risco de casos graves pela gripe. É um aval da SBIm para que isso seja recomendado. Isso porque, ao longo de seis meses, praticamente já não há mais proteção, só que essa queda é mais brusca e mais intensa nessas populações de risco, que são os que mais têm SRAG (Síndrome Respiratória Aguda Grave) e morte pela gripe", explica a presidente da Comissão Técnica para a Revisão dos Calendários Vacinais da SBIm, Mônica Levi.
A orientação segue a mesma lógica adotada na ampliação dos reforços da vacina da Covid-19. Por estes grupos naturalmente apresentarem uma resposta mais fraca aos imunizantes, a nova aplicação traz benefícios para garantir a proteção contra hospitalizações e óbitos pela gripe.
Mônica acrescenta que a recomendação abrange também pessoas consideradas em “situação epidemiológica de risco”, como aquelas que vão viajar para países do Hemisfério Norte e, por isso, enfrentarão um inverno – temporada de aumento da gripe – fora de época e distante da campanha no Brasil.
Ela explica que os casos variam de forma individual, e que a decisão da SBIm é como uma chancela para que os médicos orientem a segunda aplicação nestas situações em que uma nova dose é benéfica para ampliar a proteção. Um dos fatores que motivaram a recomendação, diz Mônica, foi o surto inesperado da doença no fim do ano passado.
"Nós tivemos um surto fora de época em novembro e dezembro, e muitas pessoas que se vacinaram em março e abril já não estavam mais protegidas. No caso do ano passado foi uma cepa diferente, mas o cenário reforçou essa preocupação com a queda da imunidade. Então foi um motivo para discutirmos isso dentro da SBIm, sobre a possibilidade de fazermos uma segunda dose para esses grupos de risco", destaca a especialista.
Cobertura com uma dose está longe do ideal
Por se tratar de uma orientação extra, a sociedade não busca ainda que a diretriz seja incorporada pelo Programa Nacional de Imunizações (PNI). A presidente da Comissão Técnica para a Revisão dos Calendários Vacinais da SBIm explica que a prioridade no momento do PNI é garantir ao menos a recuperação da cobertura vacinal com a aplicação única nos grupos prioritários. A taxa está no menor patamar já registrado segundo os dados do Sistema de Informação do Programa de Nacional de Imunizações (SI-PNI).
"Estamos com coberturas vacinais baixíssimas nos grupos de risco, então o PNI neste momento está mais focado em melhorar a adesão à vacina. A prioridade é resolver essa queda. Nós estamos tendo realmente um fenômeno de baixa cobertura. A pandemia agravou, mas é uma situação que já vinha acontecendo antes da Covid-19. Mas precisamos reverter esse cenário que é muito preocupante e ruim para o Brasil, não só em relação à gripe, como para outras doenças que eram controladas e agora ameaçam um retorno, como a poliomielite", alerta Mônica.
De acordo com o SI-PNI, neste ano, apenas 65,6% dos grupos prioritários foram imunizados, percentual distante dos 95% preconizados pelo Ministério da Saúde. Os grupos são crianças de até cinco anos, idosos, trabalhadores da saúde, gestantes, puérperas, indígenas e professores, que juntos contabilizam 54,8 milhões de brasileiros.
Em 2021, o Brasil terminou o ano com uma cobertura de 72,8%. Apesar de ser mais alta que a atual, já havia sido o índice mais baixo em 16 anos, desde o início da disponibilização dos dados pelo SI-PNI, em 2006.Nos registros, embora oscilando, a cobertura permaneceu entre 75% e 95,69% – taxa mais alta registrada em 2020, no primeiro ano de pandemia. Nos últimos dez anos, de 2012 a 2021, a média de cobertura foi de 88,6%, quase 30% superior à de 2022 até agora.
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