Embora o Brasil dê sinais de arrefecimento da pandemia do novo coronavírus (Sars-CoV-2) com a taxa de transmissão do vírus em queda, o País estacionou o número de mortes em um patamar considerado alto pelo Ministério da Saúde. Após meses de piora, a curva que mede a evolução da quantidade de óbitos da doença atingiu uma aparente estabilização, o platô.
O professor do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP) Marcelo Urbano Ferreira explica que a razão para as altas taxas de óbitos e de casos no Brasil se deve ao " manejo muito desastrado do controle da epidemia particularmente na esfera federal que acabou afetando todos as demais esferas. Esse é o pano de fundo de qualquer explicação sobre qualquer aspecto da epidemia no Brasil".
O País registrou 1.215 mortes pela Covid-19 confirmadas nas últimas 24 horas, chegando ao total de 116.666 óbitos. Com isso, a média móvel de novas mortes no Brasil nos últimos 7 dias foi de 956 óbitos, uma variação de -3% em relação aos dados registrados em 14 dias.
Em casos confirmados, já são 3.674.176 brasileiros com o novo coronavírus desde o começo da pandemia. Os dados são das secretarias estaduais de Saúde, consolidados às 20h deste domingo (23).
Segundo monitoramento feito semanalmente pelo Imperial College, de Londres, o Brasil apresentou um índice de 0,98 na última semana.
Ou seja, cada infectado transmite o vírus para menos de uma pessoa, o limite para que a instituição considere o controle.
Sobre a curva da Covid-19
se manter estabilizada em um alto patamar, o professor Marcelo Urbano Ferreira pontua que as dimensões continentais do Brasil também influenciam nessa estatística.
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"Temos uma grande heterogeneidade nas diferentes regiões, ou seja, a epidemia está em etapas diferentes no Brasil. Com isso, tem ao mesmo tempo regiões que há claramente uma queda substancial do número de casos novos e de mortes, como em Manaus e Fortaleza, mas temos também, áreas do País que a Covid-19 está em franco desenvolvimento. São localidades que começaram mais tarde a ter casos, como o Sul, o interior de São Paulo e o Centro-Oeste", esclarece Marcelo Urbano Ferreira.
O professor da USP destaca ainda que existem dinâmicas diferentes da pandemia. "Trabalhar com médias para uma região ou um país como um todo, diz muito pouco do que está acontecendo em cada um dos locais. Por exemplo, a cidade de São Paulo atingiu um platô e está iniciando uma curva descendente. Já no interior, é o oposto. Isso se aplica a várias outras localidades, é complexo", diz.
Em entrevista ao canal GloboNews, o médico Drauzio Varella afirmou que os países da Europa rapidamente instituíram medidas de distanciamento, e isso fez com que atingisse o controle da pandemia mais cedo.
"Quanto tempo vai durar essa curva em platô? Ninguém sabe. Nenhum outro país teve essa curva. Nenhum outro. Qual o outro pais que está assim nas condições do Brasil? Agora que nós vamos ver. Até o fim do ano, nós vamos estar ainda com a epidemia assim desse jeito? Vamos. Talvez esteja melhor, talvez não esteja nessa velocidade, talvez esse platô comece a cair, mas ele não vai cair de um dia pro outro, de mil mortes por dia para zero. Não vai acontecer", disse Drauzio.
Americo Cunha, professor do Instituto de Matemática e Estatística da UERJ, entende que a flexbilização em diversas cidades do Brasil pode contribuir para o aumento da mortalidade no futuro, mesmo com o platô. "Se as pessoas não respeitarem o distanciamento social e o uso das máscaras, o número de casos pode crescer ainda mais, principalmente porque a Covid-19 tem uma taxa de infecção muito alta e uma pessoa pode transmitir para várias", alerta.
Uma pesquisa realizada pelo Datafolha e divulgada no dia 18 de agosto diz que o isolamento social em função da pandemia de Covid-19 caiu em agosto ao menor nível no País desde o início da crise sanitária. Em 17 de abril, 21% das pessoas declararam estar em isolamento completo e 50% afirmaram que saíam de casa quando era inevitável. Já em 11 de agosto, as pessoas que se declararam em isolamento total eram 8%, enquanto as que diziam evitar sair de casa eram 43%.
Quando a curva vai cair?
O Ministério da Saúde afirmou no último dia 19 que em até três semanas será possível dizer se o País iniciou a queda significativa no número de casos e óbitos pela Covid-19. Atualmente, o Brasil está na 33ª semana epidemiológica e, desde a 30ª semana tem registrado variação nos números que caracterizam um "platô" com tendência de queda.
Segundo o secretário de Vigilância em Saúde, Arnaldo Correia de Medeiros, o cenário poderá ser de queda em alguma semanas semanas. Para ele, as oscilações que vêm correndo estão dentro da margem de estabilização da doença.
"Estamos vivendo uma tendência. Temos dito que vamos avaliando a Covid-19 no nosso país semanalmente. Desde a semana 22, essa variação era relativamente muito pouca, falávamos como se estivéssemos num platô. Mas desde a semana 30, esse número vem diminuindo progressivamente. Precisamos ver o comportamendo da donça nas próximas duas ou três semanas para falarmos que efetivamente estamos em uma queda significativa", garantiu Medeiros.