Pouco mais de uma semana após a ordem do presidente Jair Bolsonaro de cancelar o protocolo de intenções para a compra da vacina CoronaVac, o Ministério da Saúde não revogou o termo enviado pela pasta ao Instituto Butantan, que produz o imunizante em parceria com o laboratório chinês Sinovac.
Fontes ligadas ao governo paulista afirmam que a avaliação é de que se não houve cancelamento, a intenção de adquirir a vacina ainda está de pé.
A interpretação é que como não houve manifestação formal do Ministério da Saúde na direção contrária, as intenções de aquisição da vacina ainda são válidas. Nos bastidores, o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, já havia mencionado que insistiria na compra da vacina depois que a poeira baixasse.
Presidente do Instituto Butantan, Divas Covas confirmou que ainda não recebeu nenhuma comunicação formal do Ministério da Saúde em relação ao protocolo de intenções enviado inicialmente. Ele ponderou, no entanto, que quando a vacina ficar pronta a alternativa será interpelar novamente o órgão sobre sua aquisição:
— Eu recebi o ofício e está registrado, agora as manifestações são tantas...Quem tem que dizer se vale ou não é quem mandou o ofício. Está registrado, a hora que tiver a vacina o que podemos falar é perguntar oficialmente: a vacina está aqui, vocês fizeram uma manifestação de interesse. Vale ou não vale?
Na semana passada, Bolsonaro afirmou que mandou cancelar qualquer protocolo
assinado pelo Ministério da Saúde para aquisição de 46 milhões de doses da vacina Coronavac. A declaração ocorreu menos de 24 horas após o ministro declarar que a Saúde compraria as doses.
— Já mandei cancelar, o presidente sou eu, não abro mão da minha autoridade — disse Bolsonaro na ocasião.
Na semana passada, a interlocutores, Pazuello se mostrou abatido após as declarações do presidente desautorizando a compra da vacina e revelou que pretendia "colocar panos quentes" na questão para conseguir efetuar a aquisição do imunizante no futuro, quando o assunto sair dos holofotes.
Nesta sexta-feira, o vice-presidente, Hamilton Mourão, afirmou que o governo vai comprar a vacina produzida pelo Butantan e pela Sinovac caso sua eficácia seja comprovada.
"Essa questão da vacina é briga política com o Doria. O governo vai comprar a vacina, lógico que vai. Já colocamos os recursos no Butantan para produzir essa vacina. O governo não vai fugir disso aí", disse Mourão em entrevista à revista "Veja".
O GLOBO questionou ao Ministério da Saúde se a revogação do protocolo está mantida, mas até o momento não obteve resposta.