Uma professora da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) afirmou no sábado, em sua conta no Twitter, que o governo federal colocou o seu nome entre os elaboradores do Plano Nacional de Vacinação sem que ela tivesse acesso ao documento.
Ethel Maciel, epidemiologista e ativista dos direitos humanos, escreveu nas redes sociais: "Nós, pesquisadores que estamos assessorando o governo no Plano Nacional de Vacinação da Covid-19, acabamos de saber pela imprensa que o governo enviou um plano, no qual constam nossos nomes e nós não vimos o documento. Algo que nos meus 25 anos de pesquisadora nunca tinha vivido!".
Em nota assinada por 36 pesquisadores, o grupo técnico do "Eixo Epidemiológico do Plano Operacional Vacinação Covid-19" se disse surpreendido com o documento e afirma que o texto "não lhe foi apresentado" nem teve sua anuência.
"Importante destacar que o grupo técnico havia solicitado reunião e manifestado preocupação pela retirada de grupos prioritários e pela não inclusão de todas as vacinas disponíveis que se mostrarem seguras e eficazes", diz o texto divulgado pela Abrasco (Associação Brasileira de Saúde Coletiva).
O grupo também questiona as prioridades estabelecidas pelo plano. "Reiteramos nossa recomendação técnica para que todas populações vulneráveis sejam incluídas na prioridade de vacinação, como indígenas, quilombolas, populações ribeirinhas, privados de liberdade e pessoas com deficiência", diz o texto.
O governo federal entregou esta tarde seu plano de vacinação ao STF. Segundo o documento, 51,4 milhões de pessoas podem ser imunização contra a Covid-19 no primeiro semestre de 2021. O texto, porém, não apresenta uma data para o início do trabalho.
O documento confirma a manutenção dos grupos prioritários informados durante a semana pela pasta, mas não apresenta uma data para o início da vacinação dos integrantes desses grupos, que incluem profissionais de saúde e idosos, entre outros.
O plano menciona que o Brasil já tem acordos para a aquisição de 100,4 milhões de doses do imunizante desenvolvido pela Universidade de Oxford, AstraZeneca e a Fiocruz a serem entregues até julho de 2021, além de mais 30 milhões de doses no segundo semestre. Também é informada a aquisição de 42,5 milhões de doses por meio da iniciativa Covax Facility. E ainda está na conta, como "em negociação", 70 milhões da Pfizer.
A primeira fase contemplará trabalhadores de saúde, idosos acima de 75 anos, idosos com mais de 60 anos que estejam em asilos e população indígena. Esse público é estimado em 14 milhões de pessoas.
Na segunda fase estão pessoas de 60 a 74 anos, que somariam 21,3 milhões. A terceira é voltada a pessoas com comorbidades, uma população estimada em 12,6 milhões. A quarta fase contempla professores, trabalhadores de forças de segurança e salvamento e funcionários do sistema prisional, público de 3,3 milhões.
No plano, o governo conta que para atender a essa população precisa de 108,3 milhões de unidades de imunizante, levando em conta a aplicação em duas doses e o cálculo de vacinas que acabam sendo desperdiçadas no processo.
O plano traz como contraindicação a aplicação do imunizante em menores de 18 anos de idade, bem como em gestantes, além de pessoas que tenham reação alérgica a qualquer componente da vacina.
Uma solução tecnológica está em desenvolvimento pelo Datasus em busca de controlar e monitorar o grupo que será vacinado. A ideia é que seja disponibilizado um QR-Code para quem integra o público-alvo no aplicativo Conecte SUS para fazer a identificação, mas o documento ressalta que não se deixará de vacinar quem não tiver este código.