O pior momento da pandemia de Covid-19 no Brasil é, ainda, o momento de maior exaustão emocional por parte de quem enfrenta o risco de contágio ou a própria doença há mais de um ano.
Luto coletivo, pânico gerado pelo isolamento e crises de ansiedade estão entre os problemas que se tornaram comuns no país que enfrenta a segunda onda dos contágios por coronavírus sem jamais estabilizar os índices do primeiro pico.
Apesar das dificuldades de enfrentar o momento, porém, a psicóloga Ingrid Cancela afirma que existem algumas atitudes simples (e seguras!) que podem ajudar a amenizar o sofrimento e os riscos à saúde mental.
“É muito importante que, neste momento, as pessoas se lembrem que os pensamentos podem influenciar nas nossas ações e na forma como processamos as coisas. É importante moldar esses pensamentos de acordo com a realidade, sem esquecer das nossas possibilidades. É comum, em momentos como este, alimentar pensamentos negativos de coisas irreais ou que têm pouquíssima probabilidade de acontecer e terminar gastando muito da nossa energia em coisas que não contribuem para o nosso momento”, explica Ingrid.
“Ideal, por mais difícil que seja, é focar os pensamentos no aqui e agora”, sugere.
Não descuide da rotina
A profissional de saúde mental ainda destaca que, em momentos de crise, a rotina
organizada é mais importante do que nunca, especialmente durante o isolamento. “Faça planejamentos diários ou a cada três dias, sem criar expectativas difíceis demais de serem realizadas neste momento", orienta.
"Se algo não deu certo, não tem problema: faça uma nova lista mais ajustada à sua realidade. Não podemos esquecer de ser generosos
conosco e nos dar mais chances”, diz a psicóloga, que reforça: “muitas vezes nós nos cobramos de uma maneira que em outro momento conseguiríamos responder, mas as coisas mudaram e precisamos nos ajustar a isso”.
Além do cuidado com as demandas diárias, é importante observar as próprias reações às notícias e informações sobre a pandemia, que podem gerar efeitos nocivos se consumidos de maneira compulsiva.
“Entender o que está acontecendo no mundo de fora é importante, mas cada pessoa lida com as informações de uma forma diferente: algumas pessoas são muito sensíveis às notícias e terminam se afastando dessas informações. Nós precisamos entender que nós mesmos emitimos o sinal de quando aquilo está sobrecarregando”, orienta.
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“Quando percebemos que aquilo gera ansiedade, angústia e quando não conseguimos ouvir sobre outro assunto, isso começa a afetar nossa saúde emocional e física”, explica Ingrid.
Cuidar da saúde mental não significa descuidar da segurança
Há alguns meses, o termo “saúde mental” tornou-se um clichê quando associado às desculpas para descumprir orientações de distanciamento social e protocolos de combate à pandemia. Apesar de exigir, sim, uma atenção especial neste momento, profissionais de saúde destacam que o descumprimento das orientações podem, inclusive, causar mais problemas.
“Escolher algumas pessoas mais próximas, um familiar, um melhor amigo ou um namorado para encontrar seguindo os protocolos seria a opção mais segura neste momento em que vivemos um novo pico, mas estamos ainda mais fragilizados. Nós entendemos que as interações sociais são, de fato, muito importantes para a manutenção da saúde mental”, orienta o psicólogo Augusto Ribeiro, especializado em demandas da juventude.
Ainda segundo o profissional, “o problema de enfrentar a ansiedade do isolamento com aglomerações e descuido é que ele não só pode agravar um problema de saúde pública e ameaçar a saúde física de quem se coloca nessa posição, mas gerar outras reações de culpa e responsabilização, por exemplo”, reforça.
Sobre o mesmo tema, a psicóloga Ana Gabriela Adriani reforça que a falta de preocupação com o contágio da Covid-19, que marca a segunda onda no Brasil, também pode estar atrelada a um mecanismo de defesa do cérebro humano.
“Quando a gente passa por um longo período de tempo vivendo uma situação muito ameaçadora, em que fala o número de mortes todos os dias e reforça esse contato com a morte, isso faz com que a gente viva um processo que chamamos de dessensibilização. Ou seja, como uma anestesia aos estímulos que causavam medo”, diz.