O Brasil vive um momento bastante crítico na pandemia, com picos de casos e vítimas de Covid-19 neste mês de março. Para debater como a sociedade deve enfrentar e superar a crise sanitária nos próximos meses, O GLOBO e o Sérgio Franco reuniram grandes referências do setor de saúde no Brasil no último dia 4, em uma live transmitida pelas redes sociais do jornal.
Os debatedores foram o Dr. Alberto Chebabo, líder médico da Dasa, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia e diretor médico do HUCHH/UFRJ; a Dra. Ana Escobar, professora da faculdade de Medicina da USP; e o Dr. Wanderson Oliveira, doutor em epidemiologia, com larga experiência em investigação e gestão de emergências em saúde pública. A mediação foi do Dr. Luís Fernando Correia, médico e comentarista da Rádio CBN e Globo Internacional.
Os especialistas foram taxativos quanto a necessidade de se coibir a disseminação do vírus e das novas variantes que estão ganhando espaço em todo o território nacional. Mais do que nunca, eles ressaltaram a importância de fazer distanciamento social, usar máscara e lavar as mãos frequentemente. Do mesmo modo, a testagem e a vacinação em massa são medidas fundamentais.
Para Wanderson, a vacinação, por ainda ser incipiente, tem efeito mais individual do que coletivo. Ele acredita que, até o meio do ano, o Brasil terá entre 80 e 100 milhões de doses, suficiente apenas para vacinar os grupos prioritários:
— Nossa expectativa é a de vacinar o máximo possível de pessoas desses grupos ainda no 1º semestre. É preciso tomar as duas doses para estar protegido. É comum ter reações como dor no local da aplicação, febre baixa, mas as vacinas contra a COVID estão apresentando menos reações do que outras vacinas que aplicamos na rotina do calendário vacinal. As pessoas têm que ter tranquilidade e tomar a vacina. É a única forma de voltarmos à sociedade com segurança.
A vacinação é fundamental para impedir que casos graves aconteçam e tentar diminuir a proliferação do vírus. O surgimento de novas variantes e a velocidade com que elas têm se multiplicado preocupa. A primeira variante descrita no mundo, a britânica, tinha uma vantagem de transmissão muito maior do que o vírus original e isso fez com que ela se alastrasse de forma mais rápida no Reino Unido e Europa. As outras duas cepas de maior contágio são a sul-africana e a brasileira, conhecida como P1.
— Já sabemos que a mutação brasileira tem uma transmissão maior. Basta ver o que está acontecendo. Estamos vendo o aumento de casos nos estados onde ela se tornou predominante. A grande preocupação é que as variantes, substituindo a cepa original, possam significar o recrusdecimento da epidemia em todo o país. Também existe a preocupação com a resposta vacinal e de reinfecção por conta dessas mutações — explicou Alberto Chebabo.
Importância do teste
A boa notícia é que identificar as mutações não é difícil. Os mesmos exames que diagnosticam a cepa original continuam sendo referência para as novas variantes. Testar a população é imprescindível para o acompanhamento e controle da pandemia. Chebabo explica que existem dois tipos de testes principais, o RT-PCR, que faz o diagnóstico da doença na fase aguda, e o de sorologia, que faz o diagnóstico retrospectivo:
— O RT-PCR tem duas grandes metodologias. Uma é por meio da coleta por swab na nasofaringe e a outra, da saliva, que facilita para quem tem dificuldade de coletar o material ou alteração no trato aéreo. Existe também a pesquisa de antígeno, que tem resultado rápido, muito utilizada em hospitais. Já a sorologia é usada quando estamos procurando anticorpos. Ajuda na confirmação de um exame de RT-PCR que deu negativo, por exemplo.
Ana Escobar alertou para os cuidados com a medicação em caso de resultado positivo para a COVID-19. O Brasil é o país que mais usa medicações não recomendadas para o tratamento precoce da COVID-19 e a única nação no mundo em que há protocolo oficial recomendando o uso da ivermectina.
— Ela é ótima para piolho, mas não há nenhum estudo científico que comprove qualquer benefício para a COVID-19. Até o próprio fabricante já afirmou que ela não funciona para isso — ressaltou a Dra. Ana.
Você viu?
Alberto Chebabo endossou a afirmação:
— O Brasil é o segundo país no quesito mortalidade. Ou seja, é a prova de que o tratamento precoce não funciona. Adoraríamos que ele existisse, mas não temos. Não podemos continuar enganando as pessoas, fazendo com que elas acreditem que estão sendo tratadas. Na realidade, estão atrasando e prejudicando o próprio tratamento.
Conscientização já
Wanderson fez um apelo para que haja uma campanha de conscientização mais forte tanto em relação à prevenção e cuidados com a doença quanto em relação à saúde mental da população:
— O trauma após grandes eventos é natural, então é preciso ter grupos de apoios. As pessoas estão inseguras, é a maior pandemia em cem anos. Também tenho visto poucas manifestações sobre cuidados gerais. Os jovens estão fazendo estripulias, festas. Lamentavelmente, isso se dá pela comunicação fragmentada. Na medida que começamos a questionar a eficiência das máscaras, o distanciamento social, passamos uma mensagem equivocada para a população e isso gera mais preocupação e transtornos mentais em quem está mais vulnerável.
Escolas abertas
Ana Escobar chamou atenção para a necessidade de manter as escolas abertas, apesar do pico que o país vive. Ela defende que os espaços escolares são fundamentais para o desenvolvimento da criança, assim como empresas e trabalhos essenciais são importantes para os adultos e o funcionamento da vida cotidiana do país.
— Temos duas vertentes. No campo da COVID-19, sabemos que as medidas de proteção, ambientes arejados, máscaras, distanciamento e lavagem de mãos são essenciais. Quando as escolas estão preparadas para isso, funcionando com 35% da sua capacidade, dá para mandar as crianças. A segunda vertente é que a importância das escolas para o desenvolvimento social delas. As crianças aprendem umas com as outras, por isso é fundamental que estejam em sala de aula.
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