Há 32 dias, a DJ e influenciadora brasileira Luana Pinho não sai na rua. Ela mora em Xangai, hoje a cidade que aplica a quarentena mais rigorosa da China, sem data para terminar. Trancada em casa com seu namorado, um cachorro e dois gatos, a brasileira de 34 anos, chamada por seus fãs de Anitta da China, sente que está vivendo verdadeiro pesadelo no país que escolheu em 2013 como sua nova casa.
'Xangai parece uma cidade em guerra, mas sem armas. O que estamos passando daria uma ótima série ou filme de Hollywood. Com três doses de vacina, estamos presos em casa', desabafou Luana em conversa com O GLOBO.
Seu último trabalho fora de casa foi em 5 de março. Ela tocou numa festa de carnaval brasileira, sem imaginar que no dia seguinte Xangai entraria numa nova quarentena, muito pior, segundo a influenciadora, do que a decretada no começo da pandemia. Desta vez, afirmou Luana, a atitude das autoridades locais foi mais violenta, chegando ao extremo de separar pais contagiados de Covid-19 de seus filhos, até mesmo bebês.
'Desde março, já temos mais de 600 mil contagiados em Xangai. A situação se descontrolou. Mas estamos vacinados, o que estão fazendo não faz qualquer sentido. Lacraram prédios, puseram barreiras de metal para separar bairros. As únicas pessoas que vemos nas ruas são os voluntários, que parecem astronautas e fazem o policiamento da cidadania', contou a DJ.
Luana tem amigas que, em 40 dias sem poderem ir ao supermercado, receberam apenas uma cesta básica do governo. As compras de alimentos pela internet são liberadas em alguns momentos do dia, e é necessário entrar nos sites bem cedo para conseguir os produtos básicos. A outra opção é participar de compras coletivas, realizadas em cada condomínio.
'Tenho amigos em Pequim que me dizem que lá também estão começando as restrições, sendo que a cidade está com uma média de 30 casos por dia. Aqui estão isolando pessoas assintomáticas, é uma loucura', disse Luana.
Saúde mental
As medidas adotadas por Xangai fazem parte de uma onda de endurecimento da política de controle da pandemia na China, denominada “Covid zero”. Domingo passado, a China registrou 21.796 novas infecções de Covid-19, a grande maioria da variante Ômicron. Segundo Luana, o impacto na saúde mental dos moradores de Xangai é grave:
'A violência das autoridades chinesas, sobretudo com os chineses, é terrível.'
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Ela contou, ainda, que as pessoas que testam positivo são levadas para centros de quarentena do governo. Xangai, disse ela, adotou um sistema de camadas, pelo qual os bairros são divididos em três categorias, dependendo do risco de transmissão. Os controles mais rígidos são usados nos bairros com mais casos de contágio.
No fim de março, a confirmação de dois casos no seu prédio deixou Luana e vizinhos sem poderem sair nem para caminhar dentro do condomínio durante 19 dias. A porta do prédio foi trancada com um cadeado e um voluntário permaneceu dias sentado na entrada, para controlar a circulação dos moradores.
'Os estrangeiros estamos perplexos e assustados. Alguns conseguiram fugir no começo, mentindo. Diziam que iam para um hospital e na verdade estavam a caminho do aeroporto. Um táxi até lá estava custando cerca de R$ 3 mil', relatou a DJ.
Festas virtuais
Luana participa de vários grupos de WhatsApp com brasileiros que moram em Xangai e assegura que “todos estão profundamentre estressados, e alguns só não passaram fome graças à ajuda de vizinhos”. Nos fins de semana, para manter o contato com seus fãs e seguidores, Luana organiza lives na rede social WeChat, uma das mais populares da China. Todos os sábados, cerca de 11 mil seguidores acompanham suas festas virtuais ao vivo.
'Recebo muitas mensagens de agradecimento por levar um pouco de alegria às casas neste momento de tanta angústia', disse a DJ.
Luana divulga fotos e vídeos do que ocorre em Xangai através da rede social Instagram (@djluanapinho) porque acredita que “através da repercussão desses vídeos o mundo e os líderes chineses possam mudar de comportamento”.
'Espero que eles sintam vergonha de tudo o que estão fazendo com todos aqui. Isso é tudo muito surreal', conclui.
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