Pegar covid eleva risco de doença cardíaca em 63%, diz estudo
Ministério da Saúde
Pegar covid eleva risco de doença cardíaca em 63%, diz estudo

Mesmo que o fim da pandemia pareça cada vez mais próximo, a Covid-19 deixa para o sistema de saúde brasileiro uma herança indesejada: o aumento da incidência de doenças cardiovasculares, causado pela contaminação do vírus.

Em consultórios e hospitais, os médicos se deparam com um número alto de casos - que atribuem tanto a efeitos diretos (sequelas da infecção) quanto a indiretos (mais sedentarismo e mudanças de hábitos) da pandemia.

Com a situação incomum, grupos bolsonaristas aproveitam os relatos para questionar complicações das vacinas, mas médicos dizem que não há nenhuma relação demonstrada neste caso.

Uma pesquisa realizada por pesquisadores da Universidade de Washington publicado na revista científica Nature em fevereiro, demonstrou que pacientes que foram infectados pelo coronavírus têm mais chances de apresentar infarto agudo do miocárdio, acidente vascular cerebral, embolia do pulmão, trombose, disritmias, doenças isquêmicas e outros males relacionados ao coração.

No geral, o risco é de 63%. Mas cada doença específica tem uma porcentagem de aumento:

  • Miocardia: 438%
  • Embolismo pulmonar: 193%
  • Parada cardíaca: 145%
  • Pericardite: 85%
  • Falha cardíaca: 72%
  • Disritmias cardíacas: 69%
  • Infarto: 63%
  • Qualquer mal cardiovascular: 63% (até aqueles que tiveram covid leve);
  • AVC: 52%

O estudo fez uma comparação entre os dados de 153 mil pessoas infectadas pela doença com milhões de outros pacientes que não haviam contraído covid-19. Depois de 12 meses, aqueles que tiveram coronavírus apresentaram mais complicações cardíacas, independentemente de idade, doenças prévias ou outras variáveis - como o nível de 'intensidade' da contaminação pelo vírus da covid.

Em entrevista ao Jornal Poder360, Viviane Cordeiro Veiga, pesquisadora e coordenadora de UTI do hospital Beneficência Portuguesa de São Paulo. Ela diz que a covid-19 não é só uma doença respiratória. 

“Tem de tirar da cabeça que afeta só o pulmão. É uma doença dos vasos, de uma inflamação sistêmica”, afirma.

No Brasil, as doenças cardíacas já lideravam a lista de causas de morte, mesmo antes da pandemia. Isso ocorre porque o envelhecimento da população, que aumenta a quantidade de pessoas portadoras de fatores de risco, levou esse tipo de doença a estar no topo das causas de morte.

De acordo com um cálculo do Ministério da Saúde, houve o aumento de 4% das mortes por doenças cardiovasculares durante a pandemia, em comparação à série histórica. O número considera as causas básicas e associadas ao óbito.

Carlos Pastore, diretor da Eletrocardiografia do Incor (Instituto do Coração da USP) e professor da Universidade de São Paulo, afirma que as sequelas cardíacas foram vistas principalmente em pacientes com covid-19 que ficaram muito tempo internados.

Como a Covid influencia o surgimento de doenças cardiovasculares?

Primeiro, o vírus ataca e danifica células do sistema cardiovascular. O próprio músculo do coração pode ficar inflamado e comprometido.

Depois, quando o vírus causa acúmulo de fluido atrapalhando os pulmões, a corrente sanguínea recebe menos oxigênio. Com isso, o coração acelera, o que pode provocar danos no tecido cardíaco e morte de células cardíacas.

Em seguida, as superfícies internas de veias e artérias podem ser afetadas pela infecção do coronavírus. Inflamação de pequenos vasos podem causar obstrução e prejudicar o fluxo de sangue para outras partes do corpo.

Há também a questão da mudança de hábito: pessoas que se tornaram mais sedentárias durante a pandemia aumentam a predisposição a sofrer males cardíacos. Falta de exercícios e de mobilidade durante as fases de maior restrição, piora na alimentação e aumento do tabagismo são fatores de risco para essas doenças.

De uma maneira geral, durante os momentos de sobrecarga do sistema de saúde público brasileiro, doentes e pessoas com fatores de risco deixaram de fazer acompanhamento periódico. Muitas vezes, isso se deu para evitar exposição a ambientes com aglomeração.

Por fim, por conta da sobrecarga do sistema de saúde, com o foco na covid-19, havia menos profissionais de saúde e estrutura para atendimento disponível para as outras doenças. Houve redução dos cuidados na atenção primária à saúde. Cirurgias foram adiadas.

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