Teste com resultado positivo para covid-19
Maurício Vieira Secom-SC 24.04.2022
Teste com resultado positivo para covid-19

Desde março de 2020, uma série de mudanças – como uso de máscaras, ventilação dos ambientes, obrigatoriedade de testes, medidas restritivas, entre muitos outros hábitos – foram incorporadas no cotidiano de milhões de brasileiros.

Mais de dois anos depois, com o avanço da vacinação e uma consequente menor gravidade da Covid-19, a situação epidemiológica da pandemia melhorou e diversas práticas ficaram pelo caminho. Porém, o recente aumento de casos, com testes positivos em farmácias do país disparando 326% no último mês, acende um alerta.

Especialistas ouvidos pelo GLOBO apontam alguns costumes que se tornaram – ou ao menos deveriam se tornar – aprendizados permanentes para evitar novas ondas da doença e avanços de outros patógenos.

Para além do mais importante entre eles no momento (manter o calendário vacinal em dia), há uma série de medidas que minimizam os riscos de infecção e a severidade de uma nova onda.

"A pandemia trouxe hábitos que deveríamos manter, como lavar as mãos, usar máscaras em locais de risco, preferir espaços abertos aos fechados, isolar-se em caso de sintomas para não transmitir a doença e, claro, se vacinar. No geral, o que já deveríamos ter aprendido é que endemias e pandemias são problemas coletivos e não individuais e, portanto, requerem ações de todos", explica o doutor em saúde coletiva Fernando Hellmann, professor no departamento de Saúde Pública da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

As lições que a pandemia trouxe servem não apenas para conter o avanço da Covid-19, como também o de outros agentes infecciosos. É o caso da disseminação da varíola dos macacos pelo mundo, um vírus que até então era restrito a áreas endêmicas de onze países africanos, mas passou no último mês a provocar centenas de diagnósticos em nações de todos os continentes do planeta – com sete suspeitas no Brasil.

Confira abaixo cinco pontos listados por profissionais da epidemiologia, infectologia e saúde pública para frear a transmissão das doenças transmissíveis no país.

1 - Calendário vacinal em dia

Hoje é unânime entre os especialistas que o mais importante é manter o calendário vacinal atualizado. Isso porque as novas subvariantes da Ômicron – como a BA.2, que é prevalente no Brasil; a BA.4 e BA.5, que levaram ao aumento de casos na África do Sul, e a BA.2.12.1, por trás da nova onda nos Estados Unidos – têm um potencial maior de reinfecção.

Por isso, essas sublinhagens, junto à queda da proteção induzida pela vacina com o passar dos meses, têm motivado o crescimento dos testes positivos, mesmo entre imunizados. Ainda assim, os especialistas ressaltam que, quando contemplada com todas as doses indicadas da vacina, a pessoa tem um risco muito menor de desenvolver formas graves da doença.

No entanto, a proteção só é garantida com o esquema completo, ou seja, duas doses para crianças de 5 a 11 anos; três doses para aqueles com mais de 12 anos e quatro para os acima de 50. No caso dos imunossuprimidos, há ainda a indicação de uma dose adicional além dessas.

"É algo que aprendemos: a necessidade da vacinação em massa. Para isso, devemos trabalhar mais na educação, para ampliar a adesão dos faltosos às vacinas. Assim poderemos não só nos proteger, como também aqueles que por algum motivo de saúde não possam ser vacinados" , afirma Hellmann.

Segundo um levantamento do Ministério da Saúde, feito a pedido do GLOBO, ao menos 46 milhões dos brasileiros adultos ainda não receberam a dose de reforço, considerada essencial para uma resposta imune adequada contra a variante Ômicron.

2 - Uso de máscaras


Apesar da série de mudanças nas recomendações dos estados e municípios sobre o uso de máscaras, os especialistas concordam em relação a determinados espaços e situações em que elas ainda não deveriam ser completamente liberadas. É o caso de ambientes com aglomerações, locais fechados e, principalmente, de pessoas com sintomas respiratórios.

A doutora em Epidemiologia das Doenças Transmissíveis pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Andrea Von Zuben, professora do programa de pós-graduação em Saúde Coletiva da universidade, reforça que muitas pessoas dispensam o item por acreditar que os sintomas são de gripe ou resfriado.

No entanto, ela explica que, com a vacinação, os sinais da Covid-19 são mais leves que aqueles relatados em 2020 e, mesmo no caso de outras doenças respiratórias, é importante usar a máscara pois elas também são transmitidas por vias aéreas.

"Quando a gente pensa em doenças respiratórias, a gente não pode mais abrir mão das máscaras, especialmente em ambientes muito aglomerados. Isso para que não aconteça de pessoas andando nas ruas com manifestação desses sintomas contaminando as outras sem saber" , diz Andrea.
Na semana passada, o Comitê Científico do governo de São Paulo voltou a orientar o uso da proteção em lugares fechados, como salas de cinema, de aula, academias e escritórios, diante do aumento nas internações pela Covid-19 no estado.

3 - Testagem em caso de contato com infectado ou sintomas

A confusão com outras infecções respiratórias pode levar não apenas os contaminados a deixarem de usar a máscara, como também a não realizar o período de isolamento social orientado pelas autoridades de saúde.

Por isso, o doutor em Doenças Infecciosas e Parasitárias pela USP e professor de infectologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) Kleber Luz, que também é consultor internacional da Organização PanAmericana da Saúde (OPAS) para arboviroses, destaca a importância de se realizar o teste no caso de sintomas ou de contato com uma pessoa infectada.

"Durante a epidemia do H1N1, por exemplo, era outro cenário, a disponibilidade dos testes era escassa. Mas com a Covid-19, todo mundo pode se testar independentemente da gravidade do caso. Isso leva a um diagnóstico rápido, então você consegue isolar o caso com mais facilidade e evitar que ele transmita para outras pessoas", explica o professor da UFRN.

4 - Vigilância de fronteiras

Um fator importante para evitar a disseminação do vírus é uma forte vigilância em áreas de fronteiras, como aviões e aeroportos, destaca Andrea Von Zuben.

Por isso, na recente atualização das regras vigentes, a Anvisa decidiu pela manutenção da obrigatoriedade do uso de máscaras nesses locais. Além disso, a depender do local de destino da viagem, ainda é requerido o resultado de um teste negativo antes de embarcar.

A epidemiologista ressalta que isso é necessário pois muitas doenças, como a Covid-19 e a varíola dos macacos, estão se espalhando pelo mundo de forma cada vez mais rápida.

"Então o Brasil tem que ter uma vigilância de portos, aeroportos e fronteiras muito melhor do que ela é hoje. Nesse mundo globalizado, o coronavírus que foi identificado pela primeira vez na China chegou muito rapidamente aos outros países. A gente tem ainda uma deficiência nesse setor e, em viagens, muitas vezes pessoas de países onde algumas doenças não são endêmicas vão a outros lugares, acabam se contaminando e levam a doença", explica Andrea.

5 - Investimento em vigilância genômica


O cenário de alta circulação do Sars-CoV-2, vírus causador da Covid-19, também propicia que o vírus passe por uma série de mutações que o tornem mais transmissível ou aumentem o potencial para escapar dos anticorpos de infecções anteriores ou da vacina.

Por isso, é importante saber qual é a cepa predominante no momento, identificar de forma rápida se uma outra variante que está provocando aumento de casos em outros países chegou ao Brasil e também qual é o comportamento dessas novas versões do vírus em relação à gravidade da doença e à disseminação.

Porém, a epidemiologista da Unicamp explica que isso só é possível com estruturas de vigilância genômica capacitadas, que conseguem realizar o sequenciamento do agente infeccioso e classificá-lo – um aparato que é carente no Brasil. Ainda que instituições como o Instituto Butantan e a Fiocruz sejam consideradas de excelência, os Laboratórios Centrais de Saúde Pública (Lacens), lugares de referência para o sequenciamento, não têm a estrutura e a equipe adequada, pontua Andrea.

"A gente tem hoje um monitoramento genômico em relação à Covid-19 e as suas variantes aquém do suficiente. E essa é uma estratégia que não pode deixar de existir porque se na introdução de um novo patógeno você tem um monitoramento precoce, você consegue fazer prevenção e controle. Mas se a gente não tiver essa capacidade de detecção, quando identificamos acaba sendo tarde demais" , afirma a professora da Unicamp.

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