Diante do aumento de casos de covid-19 em todo o país, a população teme a entrada em uma nova onda de contágios. Desde o início da pandemia, o Brasil passou por três grandes picos de contaminação - no início, ainda em 2020; em 2021, com a chegada da variante delta, e no início de 2022, quando a ômicron fez os índices explodirem novamente.
Os especialistas entram em consenso quando a questão é apontar os principais motivos pelo aumento de casos: o abandono das medidas sanitárias. São poucas as regiões que ainda exigem o uso da máscara, e aglomerações voltaram a ser permitidas, como shows, festas e jogos de futebol. Jaime Rocha, infectologista e professor da Escola de Medicina da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), diz, no entanto, que precisaremos esperar um pouco mais para determinar qual é o real cenário que vivemos.
"A verdade é que a gente só consegue avaliar ondas depois de um período passado, verificando mesmo se houve redução e aumento. A impressão que se tem é de um grande aumento no número de casos leves ou moderados, e acredita-se que isso seja uma combinação do número de pessoas vacinadas e variantes. Não sabemos o quanto se deve à uma coisa ou outra, mas com certeza absoluta, as vacinas foram um grande transformador desse cenário", afirma.
"Não vimos até o momento a explosão de casos internados, (casos) graves ou na UTI. Claro que, apesar de aumentar o número de casos leves, mesmo que uma proporção menor fique leve, vamos ter aumento de casos graves. Isso já começa a acontecer em algumas regiões", completa.
Igor Thiago, médico da Sociedade Brasileira de Infectologia do Rio Grande do Norte, lembra que o outono e inverno são estações do ano que facilitam o aumento das infecções respiratórias, sejam elas por covid-19 ou não.
"Vivemos uma variação sazonal das viroses respiratórias que acontecem sempre nessa época do ano, de maio até julho, época mais fria. Aumenta o número de casos de influenza, assim como o de covid-19, que ainda circula na comunidade. Está pegando, obviamente, não vacinados. Vacinados estão com quadros leves. Algumas, com comorbidades apresentam quadros mais graves, que precisam se internar, mas felizmente a mortalidade continua bem baixa, além do que a gente poderia esperar", comenta.
Em meio à possibilidade de contaminação por mais de um vírus, Rocha aponta a testagem como arma principal da população nesse momento, principalmente em um momento em que é possível receber o resultado sem sair de casa.
"As pessoas abandonaram máscaras, cuidados em geral, e mais do que isso, como se tratam de sintomas mais leves, muitas vezes não estão testando, e sem testar, não se isolam, contaminando várias pessoas, e esse circuito se perpetua. É cedo para sasber o que vem pela frente. A certeza é que devemos insistir na vacinação, e se a pessoa estiver qualquer sinal de sintoma respiratório, deve ser testada. Há vários outros vírus que circulam no inverno, e não há como separar um do outro sem o teste."
O sanitarista Gilberto martin Berguio não acredita que seja possível, muito por conta das vacinas, que cenas como as dos últimos dois anos sejam revividas. Por outro lado, opina que a pandemia ainda está longe do fim, embora a vacina seja uma barreira importante nessa luta.
"Não vamos viver, acredito eu, momentos como os que vivemos no pico da pandemia, porque temos uma grande parcela da população vacinada, e essa é a grande barreira para que o vírus não tenha circulação tão intensa quanto da última vez. Porém, a gente tem ainda parcela importante da população que não está vacinada, e é ela que vai permitir que o vírus circule com menor intensidade", afirma.
"Aquelas pessoas não vacinadas têm campo maior de progressão da evolução do vírus. A preocupação que fica no ar, é que na medida que o vírus circula, ele encontra onde se proliferar à vontade, e cada vez que você tem uma reprodução viral, há o risco de uma nova variante. A grande preocupação é o surgimento de uma variante mais agressiva do que a que temos circulando no momento."
O especialista vê o momento atual como um "ponto de inflexão", e pede cuidado por parte da população.
"Entendo que a gente vive uma espécie de ponto de inflexão. A pandemia está em um processo de diminuição, que não significa um processo de encerramento ou finalização. Não acabou e infelizmente acho que está longe de terminar", diz.
"O momento é de preocupação. É como se estivessemos em um caminho de neblina. Houve uma diminuição, mas ela está lá na frente, e a gente não sabe se é uma descida que vai nos levar a uma planície, ou uma subida para um precipício. As pessoas precisam se cuidar, principalmente completando sua cobertura vacinal. Dessa forma a gente se prepara, pelo menos, para que em na persistência da pandemia, ela seja o menos trágico e agressivo possível."