Na tarde desta quarta-feira, diante do Ministério da Saúde, o taxista Arnaldo Caixeta, de 53 anos, jogava baralho com um colega sob uma árvore. Sem máscara, os amigos aproveitavam o momento de descanso ao ar livre à espera de passageiros. A partir desta quarta-feira o uso de máscaras em locais abertos deixou de ser obrigatório em Brasília após decreto do governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB).
Apesar da liberação, Caixeta, que trabalha na Esplanada há quase 30 anos, levava a máscara guardada no bolso. O taxista ponderou que continuará usando o acessório em locais fechados ou aglomerados.
"Tem que continuar usando a máscara, muita gente já ficou doente. E eu acredito que a pandemia ainda não está muito perto de acabar, embora tenha melhorado com a vacinação", afirmou Caixeta, tirando a máscara do bolso para mostrar à reportagem.
Nas ruas de Brasília, a proteção ainda estava no rosto de boa parte das pessoas que transitavam pela capital. No centro do poder, entre a rodoviária e a Praça dos Três Poderes, o Palácio do Planalto era o local que mais destoava do resto.
Nos corredores da sede Executivo, de onde despacha o presidente Jair Bolsonaro, a máscara deixou de ser regra há tempos, e diversos servidores andam sem a proteção. Nesta quarta, o comportamento intensificou. Quem chega na portaria principal já percebe maior flexibilização das regras: das cinco recepcionistas que estavam no local na tarde de quarta, apenas duas usavam máscaras. Os dois seguranças que estavam lá também não usavam o equipamento.
O presidente Jair Bolsonaro costuma aparecer em público sem utilizar máscara e já deu diversas declarações contra o uso da proteção. Em junho, Bolsonaro afirmou que pediu ao ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, um protocolo para desobrigar o uso por parte de pessoas vacinadas ou que já contraíram Covid-19. A medida, no entanto, até o momento não virou realidade. O Distrito Federal e o Rio de Janeiro foram as primeiras capitais do país a liberarem o uso da proteção em ambientes abertos.
De acordo com o decretro do DF, as máscaras continuam sendo obrigatório em espaços fechados, no transporte público, em estabelecimentos comerciais, e em áreas de uso comum de condomínios.
Entre aqueles que optavam por manter a proteção mesmo com a liberação em locais abertos, alguns desconheciam a nova regra e outros defendiam o uso das máscaras mesmo com a nova orientação do Distrito Federal. Na Esplanada, as irmãs Bárbara Meneses e Bianca Meneses caminhavam sozinhas, mas com a proteção no rosto.
"Acho que ainda não é a hora de tirar. Podemos estar vacinados, mas mortes ainda continuam. A máscara sempre foi importante, pois reduz o risco de contágio", argumentou Bárbara, 18 anos.
A poucos quilômetros dali, na rodoviária da cidade, local com fluxo intenso de pessoas, Alda Leão, 54 anos, era uma das poucas pessoas que caminhava com o rosto à mostra. A vendedora comemorou o fim da obrigatoriedade do uso em ambientes abertos. Vacinada com as duas doses, ela afirmou que já estava há horas transitando sem máscara ao ar livre.
"Era para tirar a máscara há muito tempo. A obrigatoriedade continuava enquanto os botecos estão todos cheios de gente", criticou.
Vendedor ambulante na rodoviária, Marcos Antonio Santos, que também optou por deixar a proteção de lado em ambiente aberto, criticou a falta de medidas de contenção da doença nos transportes públicos. Santos gasta em média uma hora em ônibus lotado para chegar ao local de trabalho.
"Mantiveram a máscara obrigatória, mas por outro lado não houve medidas de distanciamento nos ônibus. Desde o início da pandemia venho para cá em um ônibus sempre lotado, onde o risco é imenso", disse.
Especialistas têm adotado cautela em relação ao fim da obrigatoriedade do uso de máscaras. Na semana passada, em uma audiência pública na Câmara, representantes da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), do Ministério da Saúde e do Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems) se posicionaram contra a flexibilização.
Dados do Consórcio de Veículos de Imprensa mostram que na última terça-feira o Brasil apresentou a média de número de mortes mais baixa desde abril do ano passado, com média móvel de 261 óbitos. O país acumula 608.118 pessoas que perderam a vida em decorrência da Covid-19.