O presidente Jair Bolsonaro homenageou um pesquisador brasileiro que fez o primeiro estudo a demonstrar a ineficácia da cloroquina no tratamento contra a Covid-19. Bolsonaro, que é defensor do uso da cloroquina, admitiu na Ordem Nacional do Mérito Científico o infectologista Marcus Lacerda, da Fiocruz Amazônia, que sofreu ataques e ameaças devido a sua pesquisa.
A Ordem do Mérito Científico tem como finalidade homenagear personalidades que "se distinguiram por suas relevantes contribuições prestadas à Ciência, à Tecnologia e à Inovação". No mesmo decreto, publicado na quinta-feira no Diário Oficial da União (DOU), Bolsonaro admitiu a si mesmo como "grão-mestre" da ordem, algo que já está previsto no regulamento da condecoração.
A admissão na ordem é prerrogativa do presidente da República, que avalia nomes apresentados pelo ministro das Relações Exteriores. A indicação precisa ter recebido parecer favorável do Conselho da Ordem — formado pelo chanceler e pelos ministros da Ciência e Tecnologia, da Economia e da Educação.
Podem apresentar sugestões ao chanceler membros do próprio conselho, a Academia Brasileira de Ciências ou "autoridade da área da ciência, tecnologia e inovação".
Presidente criticou estudo
Em março de 2020, no início da pandemia de Covid-19, Lacerda conduziu um estudo clínico que mostrou que as doses de cloroquina que normalmente funcionam em pacientes de malária e lúpus — destinação original do medicamento — não funcionavam para a Covid, e que, sob doses maiores, a cloroquina provocava arritmia cardíaca.
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Após a repercussão do estudo, o infectologista passou a sofrer ameaças e teve que andar com seguranças. A pesquisa foi criticada pelo próprio Bolsonaro:
"Espero que a experiência de Manaus, com doses cavalares de hidroxicloroquina, seja completamente desnudada pelos senadores", disse o presidente em maio deste ano, sugerindo que a recém-instalada CPI da Covid investigasse o assunto.
Ao falar em "doses cavalares", Bolsonaro referiu-se à crítica de que a pesquisa teria utilizado doses de cloroquina além do nível recomendado, o que teria levado à morte dos pacientes. Entretanto, o estudo, que foi publicado na prestigiada revista científica Journal of the American Medical Association (Jama), mostrou que os que os trabalhos foram interrompidos bem antes da ocorrência dos óbitos.