O Ministério da Saúde planeja soltar uma nota técnica nos próximos dias para orientar a aplicação de mais uma dose da vacina da Janssen. O documento deve orientar a aplicação, com intervalo mínimo de dois meses, nas 4,81 milhões de pessoas que tomaram a primeira dose no Brasil. Cinco meses depois, as pessoas devem tomar um reforço com um imunizante que seja, preferencialmente, de outro laboratório, como a Pfizer.
Na definição científica, segunda dose faz parte do esquema vacinal, sendo necessária para atingir uma imunidade satisfatória. O reforço serve para recuperar a resposta imune perdida ao longo do tempo.
"Tem primeira, segunda ou terceira dose no esquema vacina primário. O reforço seria outra coisa. Existe o que nós chamamos de off label (uso fora da bula), que também é correto eticamente. Só que quem traz a responsabilidade somos nós, médicos, quando estamos na relação privada médico-paciente ou na relação pública, no caso, o Ministério da Saúde com a população. Então, a gente avoca a responsabilidade. Fizemos isso com as gestantes, os imunossuprimidos e não há bula que fale que eles precisam do reforço", disse ao GLOBO a secretária extraordinária de Enfrentamento à Covid-19, Rosana Melo.
Apesar de não haver pesquisas sobre a segurança e da eficácia de duas doses de Janssen, além do reforço, provavelmente de outro laboratório, especialistas ouvidos pelo GLOBO dizem que a decisão é positiva e não deve trazer riscos à população.
"Não temos dados suficientes para isso, mas é o que está acontecendo em vários países do mundo (reforço). Haverá um benefício de uma nova dose", afirma o professor de Imunologia da Universidade de São Paulo (USP) e diretor do laboratório de imunologia do Instituto do Coração do Hospital das Clínicas, Jorge Kalil.
O professor da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) e infectologista da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Julio Croda, também avalia que não há risco, mas sugere a realização de estudos de fases 1 e 2 para aferir eficácia e segurança:
"O FDA e o CDC já recomendam duas doses dessa vacina nos Estados Unidos".
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As entregas de um novo lote devem começar amanhã ou na próxima segunda.
Até o momento, não há um intervalo máximo para tomar essa outra dose. Melo projeta que o ministério deve concluir a entrega de doses suficientes para a cobertura da população que já tomou a primeira na primeira quinzena do próximo mês:
"(Quem se vacinou em junho) pode esperar até 15 de dezembro que não tem problema nenhum. A mensagem que é mais importante para passar para a população leiga pe que é melhor tomar Janssen, mas não é prejudicial tomar outra".
À medida em que as unidades federativas recebam as vacinas da Janssen, elas já poderão ser administradas na população. Estados e municípios têm autonomia para definir cronogramas de vacinação e podem, por exemplo, escalonar a aplicação por faixa etária.
Dados da projeção de entregas de vacinas do Ministério da Saúde indicavam que a pasta receberia 7,7 milhões de imunizantes da Janssen em novembro e 28,4 milhões em dezembro. A pasta informou, em nota, que seriam 6,6 milhões de doses — uma redução de 1,1 milhão — neste mês e o restante, para finalizar o contrato de 38 milhões, no próximo. Além da segunda dose para quem já tomou a primeira, o volume deve ser destinado ao reforço na população geral, liberado a partir de 18 anos e completou o ciclo de imunização há pelo menos cinco meses.
Secretários e interlocutores ouvidos pelo GLOBO afirmaram que a decisão foi unilateral, tomada pelo ministério sem ouvir os estados. Procurado, o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) informou que “ainda que não tenha sido consultado para essa decisão específica, o Conselho apoia as decisões do Ministério da Saúde que tem respaldo técnico”.
Já o presidente do Conselho Nacional de Secretarias municipais de Saúde (Conasems), Wilames Freire, disse que aguarda a nota técnica.
"No momento, não temos nenhuma dose da vacina Janssen nos municípios para poder atender a demanda anunciada pelo ministério".