Desde 2018, os números de explante de prótese mamária crescem exponencialmente no Brasil. Segundo a Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica, naquele ano, 14,6 mil cirurgias de retirada de silicone foram realizadas. Em 2019, o índice pulou para 19,4 mil, e em 2020, chegou aos 25 mil.
O movimento é cada vez mais forte no país, onde 200 mil pessoas fazem a cirurgia de implantes de silicone por ano. Para entender esse fenômeno, o iG Saúde conversou com o presidente da Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM), Vilmar Marques.
Na opinião dele, o que está mudando é a mentalidade de uma parcela das mulheres, que deseja voltar a conviver - e aceitar - as características naturais do corpo.
"O que a gente observa é que a procura pelo explante tem sido motivado por outras causas, não de doença. É por opção de estilo de vida. Muitas mulheres veem a sua figura feminina não necessitando mais do implante, e existe um movimento social nessa direção. O que foi modismo na década de 1990, 2000, não é mais", explica.
"Obviamente que existe um outro lado desta moeda, que é a síndrome ASIA (Autoimmune Syndrome Induced by Adjuvants — em português, Síndrome Autoimune Induzida por Adjuvante) e a doença do silicone, mas entre as pacientes que nos procuram, poucas se encaixam em um quadro de doença. E o que elas querem é tirar o implante por não precisar dele."
Rejeição
A terapeuta Vanessa Paula optou por colocar silicone após engravidar e ficar com os seios flácidos. Descontente e com problemas de autoestima, ela fez a cirurgia em 2006. Seis meses depois, ela apresentou um quadro de rejeição. Por orientação médica, ela fez massagens e tomou remédios, o que fez com que o problema adormecesse. Nove anos depois, eles voltaram com tudo, e ela optou por retirar as próteses.
"Em 2015, não se falava sobre o assunto. Algumas pessoas falavam em rejeição, mas não se explicava a fundo como hoje. Descobri que o silicone havia encapsulado. Decidi retirar".
Ela consultou o médico e foi orientada a trocar a prótese de silicone. Mas, decidida, ela procurou outro profissional, e precisou também fazer uma mamoplastia para retirar o excesso de pele.
"Retiramos, mas antes do explante, eu precisei fazer um preparo psicológico para aguentar o pós. Eu ia perder muitas roupas, não ia ter aquele 'decotão'. Minha família, meu marido, ficaram assustados. Naquela época era normal colocar, não retirar. Fiquei até com insegurança sobre tirar ou não tirar", diz Vanessa.
O Dr. Vilmar Marques alerta sobre esse momento, que pode ser delicado. "O explante mamário, quando não existe doença, é uma cirurgia simples. Só que a paciente tem que aceitar o resultado. O que eu quero dizer com isso - se a mama dela era praticamente só implante mamário, vai ficar com a mama bem menor, sacular, flácida. Quando indicamos o implante, temos como premissa informar que esta é uma cirurgia quase que para sempre', pontua.
"Dificilmente alguém que coloca, fica sem, porque ela se acostuma com o aspecto, o volume mamário. Na hora que se retira esse explante, não tem volume nenhum. Para ela, o resultado pode ficar inestético sem implante. E se ela realmente quiser manter a forma, o volume, aí sim a cirurgia passa a ter uma complexidade maior."
'Doença do silicone' e síndrome ASIA
'Doença do silicone' foi o termo encontrado por muitas mulheres para definir uma série de sintomas que, segundo elas, estariam relacionados às proteses. Nas redes sociais, é comum encontrar relatos e alertas, mas ainda não há uma comprovação científica sobre a associação do implante e o desenvolvimento dos sintomas.
"A 'doença do silicone' não é comprovada nos estudos publicados até o momento. Nos estudos recentes, o último bem conduzida foi em 2021, pareou pacientes com implante e só com a mamoplastia. Na análise dos dados, a sintomatologia dos dois casos é a mesma, não existe aumento de sintomas em quem fez uso de implantes", explica o médico.
"Vão existir pessoas altamente alérgicas, que passam mal com qualquer substância. Essas pacientes, fazendo uso de silicone por um período longo pode desenvolver um processo de anticorpos, que pode gerar um quadro sistêmico, com vários sintomas. Pode existir, mas não é habitual, e estatisticamente passa a não ser significante. Se existir doença do silicone, ela é rara, e vai acontecer em uma fatia muito pequena de pacientes."
A ASIA, no entanto, é uma síndrome autoimune ou inflamatória induzida por um adjuvante, substâncias que estão presentes na prótese que podem desencadear uma resposta imunológica.
Por enquanto, também são raras as literaturas que analisam o tema. Segundo o mastologista, ela foi descrita pela primeira vez pelo israelense Yehuda Shoenfeld. Não há, no entanto, nenhum exame laboratorial de imagem ou critérios diagnósticos validados e aceitos mundialmente para essa síndrome.
"Foi assim que surgiu a síndrome ASIA, não só ligada ao silicone, mas ao corpo. É muito complicado. Existem milhões de mulheres com silicone, é um mercado extremamente ativo. São pelo menos 30 milhões de mulheres ao redor do mundo, e esse contingente que procura retirar ainda é muito pequeno", afirma o Dr. Vilmar sobre a relação entre o explante e a ASIA.
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