O Ministério da Saúde montará uma sala de situação para monitorar a varíola de macacos . O anúncio oficial, antecipado ao GLOBO por integrantes da pasta, é esperado para esta segunda-feira. Caberá à Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS) coordenar os trabalhos, em que uma equipe técnica da pasta analisará dados sobre a doença e seus possíveis impactos sobre a população.
Documento obtido pela reportagem mostra que o Brasil não registra casos suspeitos da doença. Ao todo, há 155 casos registrados em 14 países, dos quais 94 foram confirmados e 61 seguem em análise.
“Com base em dados da OMS nenhuma fonte de infecção foi confirmada até o momento para famílias ou para clusters de pessoas. Segundo as informações atualmente disponíveis, a infecção parece ter sido adquirida localmente no caso detectado no Reino Unido. A extensão da transmissão local não é clara e existe a possibilidade de identificação de outros casos. No entanto, uma vez que a varíola dos macacos foi suspeitada, as autoridades do Reino Unido prontamente iniciaram medidas apropriadas de saúde pública, incluindo o isolamento dos casos e rastreamento de contatos para permitir a identificação da fonte”, diz o documento.
No domingo, Suíça, Áustria e Argentina anunciaram os primeiros casos confirmados. Nenhuma morte associada foi relatada até o momento. O primeiro paciente com varíola de macacos foi diagnosticado no Reino Unido, no dia 7 de maio.
A doença é endêmica na África e embora o primeiro caso tenha ocorrido em uma pessoa que retornou de viagem da Nigéria, a maioria não tem associação com a passagem por locais de transmissão da doença. Isso, além de intrigar especialistas, levanta o questionamento sobre o risco de a varíola de macacos chegar ao Brasil.
O presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), Alberto Chebabo, afirma que é difícil evitar que a doença chegue ao Brasil, e, por isso, é importante reforçar a rede de vigilância para detectar os casos suspeitos.
"Evitar que tenha caso (no Brasil) em mundo tão conectado é difícil. Agora, precisamos estar atentos, ter rede de vigilância adequada para detectar rapidamente os casos suspeitos e ter uma estrutura de diagnóstico e vigilância", afirmou ao GLOBO.
Chebabo ressaltou a importância da sinalização do Ministério da Saúde para a comunidade médica com orientações claras sobre como lidar com a doença.
"O Ministério da Saúde não sinalizou muita coisa. O ideal é que já tivesse, é possível ter casos próximos no Brasil. Precisa ter essa estrutura organizada para saber o que fazer", afirmou, continuando: "Tem que ser montada uma estrutura de diagnóstico, com PCR, como coletar esse material e como chegar nesses laboratórios e como volta para o profissional que notificou".
Na sexta-feira, a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) publicou um alerta epidemiológico com recomendações sobre a identificação de casos, o isolamento e o acompanhamento de contatos, além do manejo clínico e a prevenção e controle da doença.
O que é a varíola do macaco?
A varíola dos macacos é uma infecção viral rara semelhante à varíola humana, considerada leve. A transmissão normalmente acontece do animal para a pessoa em florestas da África Central e Ocidental. Casos de contágio entre seres humanos podem acontecer, mas são mais raros, aponta a OMS. Por isso, autoridades de saúde pelo mundo monitoram de perto os novos diagnósticos que parecem se espalhar com mais facilidade de pessoa para pessoa.
Embora considerada rara, a OMS explica que a transmissão entre humanos se dá pelo contato com lesões, fluidos corporais, compartilhamento de materiais contaminados e vias respiratórias. Isso inclui o contato íntimo, com uma série de registros sendo associados a locais para relações sexuais, como na Espanha, onde a maioria dos casos foram ligados a uma sauna.
Não existe uma vacina específica para a varíola dos macacos, mas os dados mostram que os imunizantes utilizados para erradicar a varíola tradicional, em 1980, são até 85% eficazes contra essa versão, de acordo com a OMS. As autoridades de saúde britânicas disseram na quinta-feira que começaram a oferecer a vacina a alguns profissionais de saúde e outras pessoas que podem ter sido expostas ao vírus.
Conheça os sintomas
Os primeiros sintomas da doença podem ser febre, dor de cabeça, dores musculares, nas costas, além de calafrios e exaustão. As lesões na pele podem se desenvolver primeiro no rosto e depois se espalham pelo corpo.
Os sintomas podem ser graves, mas há casos de sintomas leves que podem passar despercebidos. Nesses casos, há um risco maior de transmissão da doença.