A alopecia areata é um tipo de calvície que afeta homens, mulheres e até mesmo crianças. A doença pode variar em gravidade, mas para alguns, a perda total de pelos no corpo, incluindo cabelos, cílios, sobrancelhas, até pelos no nariz e nas orelhas, pode ser devastadora. Até segunda-feira, não havia um tratamento específico para a doença.
Ontem, a Food and Drug Administration (FDA), agência que regula medicamentos nos Estados Unidos, aprovou o baricitinibe, para a doença. O medicamento, fabricado pela Eli Lilly, regenera o cabelo impedindo o sistema imunológico de atacar os folículos capilares. Ao GLOBO, a Eli Lilly disse que a indicação do medicamento para alopecia areata já está em análise pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). A empresa aguarda aprovação no último trimestre de 2022, com lançamento previsto no Brasil em 2023.
O baracitinibe já está aprovado no Brasil para o tratamento de diversas condições, como artrite reumatóide e Covid-19. Inclusive, para essas indicações, ele já foi incorporado ao Sistema Único de Saúde (SUS). Recentemente, o medicamento foi aprovado pela Anvisa para dermatite atópica.
Nos Estados Unidos, alguns médicos já usavam o medicamento para alopecia antes mesmo da aprovação da FDA. A diferença é que agora, é possível solicitar a cobertura do tratamento, que é considerado de alto custo, aos planos de saúde. Nos EUA, o preço de tabela é de quase 2.500 dólares por mês.
Duas outras empresas, a Pfizer e a Concert Pharmaceuticals, estão logo atrás com medicamentos semelhantes, conhecidos como inibidores de JAK. Assim como o baracitinibe, esses outros medicamentos já estão no mercado para o tratamento da artrite reumatoide e outras doenças autoimunes.
A droga da Lilly foi estudada em dois ensaios, patrocinados pela empresa e publicados no mês passado na revista New England Journal of Medicine, envolvendo 1.200 pacientes com alopecia areata grave. Quase 40% dos que tomaram a droga tiveram um crescimento de cabelo completo ou quase completo após 36 semanas. Depois de um ano, a taxa aumentou para quase 50% dos pacientes.
Os efeitos colaterais foram considerados leves e incluíram um pequeno aumento do risco de acne, infecções do trato urinário e outras infecções. Esses efeitos foram facilmente tratáveis ou melhoraram sem tratamento.
Em um editorial que acompanhou a publicação do estudo na New England, os médicos Andrew Messenger, da Universidade de Sheffield, e Matthew Harries, da Universidade de Manchester, consideraram os resultados do estudo da Lilly “impressionantes”. Eles acrescentaram que os resultados “representam os primeiros ensaios publicados de fase 3 de qualquer tratamento para essa condição”.
O médico Brett King, professor de dermatologia da Universidade de Yale, está à frente de todos os estudos que avaliam a eficácia desses medicamentos para a alopecia areata. Ele disse estar otimista de que a taxa de sucesso das drogas aumentará.
King é considerado o especialistas por trás do interesse no uso de inibidores de JAK para tratar alopecia areata. Tudo começou entre 2012 e 2013, quando ele notou três estudos envolvendo camundongos, que indicaram que esses medicamentos poderiam reverter a queda de cabelo causada pela doença.
Mais de 300 mil americanos vivem com alopecia areata grave, de acordo com a FDA. A doença ficou mais conhecida após a cerimônia do Oscar, quando o ator Will Smith deu um tapa no rosto do comediante Chris Rock como reação a uma piada sobre a careca de sua esposa, Jada Smith. Ela é completamente calva devido à alopecia areata.
Segundo informações da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), a condição é uma doença inflamatória que provoca a queda de cabelo. Não há uma causa específica. Diversos fatores estão envolvidos no seu desenvolvimento, como a genética e até uma questão autoimune. Fatores emocionais, traumas físicos e quadros infecciosos podem desencadear ou agravar o quadro.
Para a maioria dos pacientes, a doença se manifesta como uma ou algumas pequenas regiões calvas na cabeça. Mas aqueles com casos graves têm algo muito pior. Em um dia, são apenas algumas regiões. Três meses ou até três semanas depois, eles não têm mais pelo em seus corpos.
A perda de cabelo severa não apenas “rouba a identidade de uma pessoa”, mas é “uma questão médica”, disse ela, acrescentando que quando as pessoas perdem cabelo no nariz e nas orelhas, isso afeta as alergias e a audição.
Os pelos, incluindo o cabelo, sempre pode crescer novamente, mesmo que haja perda total. No entanto, a evolução da doença não é previsível.
Um dos primeiros pacientes de King foi Kyle. Quando tinha 25 anos, ele procurou o médico para tratar sua psoríase. Ele quase não tinha cabelo e sua cabeça e corpo tinham grandes placas escamosas e vermelhas. A queda de cabelo severa começou em um baile no ensino médio. Kyle foi ao banheiro, tirou o chapéu e, para seu horror, encontrou uma grande quantidade de cabelo no chapéu.
O paciente foi diagnosticado com alopecia areata. King então sugeriu um tratamento inédito, com um medicamento aprovado para artrite reumatoide. Ele deixou claro para o paciente que só haviam evidências de estudos em ratos.
Kyle passou a tomar tofacitinibe, um inibidor de JAK fabricado pela Pfizer, que é semelhante ao medicamento da Lilly. Oito meses depois, seu cabelo estava de volta. King publicou um estudo sobre o caso e outros dermatologistas começaram a utilizar inibidores de JAK para o tratamento deste tipo de alopecia. A médica Maryanne Makredes Senna, diretora do Hair Loss Center of Excellence da Beth Israel Lahey Health em Massachusetts, conseguia até mesmo convencer as seguradoras a cobrir os custos do medicamento.
Entre no canal do Último Segundo no Telegram e veja as principais notícias do dia no Brasil e no Mundo. Siga também o perfil geral do Portal iG.