Tatu
Reprodução: commons - 25/08/2022
Tatu

Um adolescente, de 17 anos, morreu no Piauí vítima de uma infecção provocada pelo fungo Coccidioides posadasii, conhecido como '’doença do tatu" . O irmão da vítima, de 14 anos, e um amigo, de 22, também foram contaminados. 

A vítima morreu no último sábado (20), após ter ficado oito dias internado na UTI do hospital de Picos. Ele chegou a ser intubado, mas não resistiu. O amigo do jovem está internado em uma semi-UTI no hospital Justino Luz, e o irmão é monitorado em casa.

Ao iG , Ricardo Cavalcante, médico infectologista do Hospital das Clínicas da faculdade de medicina de Botucatu conversou com a equipe técnica do Ministério da Saúde que trabalha diretamente com essas infecções fúngicas e com os médicos dos jovens acometidos pela doença no Piauí. Segundo ele, o nome do fungo que estão presente no organismo dos adolescentes é o Coccidioides posadasii .

“Tive informação de um infectologista que está cuidando de um destes jovens que se encontra hospitalizado. Na verdade, o diagnóstico é de Coccidioides posadasii , primo da Paracoccidioides spp ”.

A Secretaria de Saúde de Simões, no Piauí, no entanto, confirmou a morte por paracoccidioidomicose. Desconfiado, Cavalcante checou a informação e descobriu que o fungo era Coccidioides.

O médico explica que as pessoas que trabalham com a caça do tatu podem ficar expostas a esses dois fungos, que desencadeiam a ‘‘doença do tatu’’.

“A doença que classicamente é a doença do caçador de tatu é o fungo Coccidioides posadasii . A gente conhece essa doença desde 1978 aqui no Brasil. Ela é uma doença que ela tem muito mais nos Estados Unidos, tem muito mais no México, mas ela também tem na América do Sul e no Brasil ocorre especificamente no nordeste.” 

Transmissão da doença

A pessoa é contaminada pelo fungo através da inalação que vem do solo. Segundo Cavalcante, este é o único meio de transmissão da doença. Ele ainda explica que a infecção não advém somente da “toca do tatu” e sim da terra.

“Não existe transmissão de humano para humano. E nem acontece a transmissão do animal para o humano”. E a exposição (ao fungo) não é na ‘toca do tatu’, na verdade, é uma exposição a terra”.

Sintomas

Ricardo Cavalcante explica que, em casos leves, a 'doença do tatu' se manifesta de forma parecida com uma gripe e que os sintomas duram, em média, entre uma e duas semanas. Ele aponta ser comum a ocorrência de febre, dor no corpo e nas articulações, dor de cabeça e problemas respiratórios, como tosse.

"Essa é uma doença autolimitada, ou seja, sem que haja tratamento nenhum ela vai desaparecer em uma ou duas semanas. Os sintomas vão embora, tudo resolvido espontâneamente", indica o médico.

Já os casos graves podem desenvolver pneumonia e geralmente ocorrem em pessoas que possuem deficiências no sistema imunológico. Entre os sintomas estão falta de ar e sangue durante tosses. Ricardo Cavalcante aponta que a doença pode se expandir para outros órgãos além do pulmão, como a pele e o cérebro.

O médico explica que a alta letalidade entre crianças e adolescentes está ligada ao fato do sistema imunológico, principalmente dos mais jovens, ser imaturo, ou seja, ainda estar em desenvolvimento. Pessoas portadoras de HIV ou transplantadas também têm tendência a desenvolver a doença na forma grave devido abaixa imunidade proveniente do deficit imunológico.

Prevenção ao fungo

Para o infectologista, o ideal seria o uso de máscaras N95 ou PFF2 para atividades que exijam o contato com a terra. Contudo, por conta da falta de notificação de doenças fúngicas, as medidas de prevenção são escassas.

“Tem que usar bastante máscara com aquela filtragem mais ampla então uma máscara N95, PFF2, que é o que realmente vai proteger o indivíduo contra inalação desses fungos.”

Apesar das poucas informações e notificações sobre a doença, Ricardo disse que vacinas contra a Paracoccidioides spp estão em desenvolvimento experimental.

“Existem várias pesquisas, mas ainda em campo experimental, sobre vacinas para as pessoas que são expostas e para evitar que elas adoeçam, mas isso ainda é algo bastante experimental”.

Sobre a Coccidioides posadasii , o médico afirma que não tem conhecimento sobre pesquisas do fungo que acometeu os adolescentes no Piauí.

"Não conheço nenhum estudo experimental sobre a Coccidioides posadasii que esta sendo desenvolvido. Aqui no Brasil, a doença fica muito localizada na região Nordeste, e é onde as pessoas acabam dando mais link nas pesquisas".

Segundo o médico do Hospital das Clínicas da UNESP, o fungo da “doença do tatu” gosta muito de clima árido a área de semiárido, por isso que ele é muito restrito ao nordeste.

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** Leticia Martins é estudante de jornalismo na Faculdade Cásper Líbero. É estagiária de Último Segundo, com foco em Hard News. Tem experiência em assessoria de imprensa, é fascinada em política e causas sociais. Certificada em missões urbanas, trabalha como voluntária em ONG´s que auxiliam refugiados no Brasil.

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