Termos nutricionais podem gerar dúvidas
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Termos nutricionais podem gerar dúvidas

Ao fazer uma dieta muitas pessoas se deparam com termos nutricionais técnicos como diet, light, sem lactose, proteína, termogênico, orgânico, antioxidante, lipídio, macro, micronutrientes e outros que, muitas vezes, podem confundir as escolhas na hora da compra. Mas, por qual motivo essas nomeações são utilizados para pessoas leigas no ramo nutricional?

O Portal IG conversou com a nutricionista do Conselho Regional de Nutrição, Alice Reino sobre esta questão e, segundo ela, esses termos são utilizados como estratégia de marketing para atrair pessoas que não conhecem a real dimensão e efeitos que determinadas substâncias causam no corpo.

O efeito termogênico de alguns alimentos, como o gengibre, por exemplo, é real, mas costuma ser pequeno. Isso não significa que alguém vá emagrecer 10 kg em um mês só porque começou a colocar gengibre no molho da salada todos os dias. Os possíveis benefícios dos alimentos são, muitas vezes, ampliados e generalizados sem comprovação científica robusta, o que pode criar expectativas irreais e frustração”, explica.

Com  dietas de baixo teor de carboidratos em evidência, as chamadas “low carb”, muitas pessoas passaram a consumir mais proteínas. A procura por alimentos com “alto teor proteico” como os wheys também aumentou. O problema do uso dessas palavras é que exageros podem acontecer devido à falta de conhecimento, como explica Alice Reino:

Para o público leigo, essa linguagem passa a mensagem de que basta aumentar proteína e cortar carboidrato para “comer certo”. Fica de fora da conversa algo fundamental: equilíbrio e contexto. É comum aparecer o pensamento “se faz bem, posso consumir sem limites”, e isso também pode gerar problemas. Mesmo nutrientes com boa fama, como proteína, fibras e antioxidantes, em excesso ou descontextualizados podem ser inadequados para algumas pessoas. O foco precisa sair do nutriente isolado e voltar para o padrão alimentar como um todo.




Segundo a nutricionista, o Guia Alimentar para a População Brasileira, documento do Ministério da Saúde, recomenda um cardápio baseado em frutas, legumes e verduras in natura, usar minimamente processados e evitar ao máximo alimentos ultraprocessados .

Neste último grupo, entram produtos que parecem bons, como: como bebidas com proteína adicionada, produto zero açúcar, mas que continuam sendo ultraprocessados e, portanto, exigem cautela:

A especialista explica que a boa alimentação não precisa ser complicada:

Comer arroz e feijão com regularidade, incluir folhosos e legumes nas refeições, beber água ao longo do dia e consumir frutas todos os dias é uma base que funciona e tem evidência. Não é necessário “reinventar a roda”, muitos desses compostos saudáveis (antioxidantes, por exemplo) que a indústria passa a adicionar  artificialmente aos produtos já estão presentes, de forma natural e equilibrada, nos alimentos do dia a dia.

Medicalização da comida

E quando a rotina corrida não ajuda a cumprir perfeitamente o plano alimentar recomendado? Em muitos casos, algumas pessoas veem benefícios em suplementar a própria alimentação com vitaminas e substâncias em capsulas. São fáceis de carregar e alguns prometem uma pele mais viçosa, um cabelo forte e volumoso, redução nas dores das articulações e entre outros benefícios.

Primeiro, é importante alertar para a medicalização da comida. O alimento não precisa assumir o lugar de remédio o tempo todo. Quando reduzimos o comer a “corrigir exame” ou “tratar doença”, apagamos dimensões sociais, culturais e sensoriais dos alimentos. Comer passa a ser só sobre melhorar ou piorar algum sintoma, e isso favorece um comportamento alimentar mais rígido e transtornado, com impacto também na saúde mental, gerando ansiedade, culpa e estresse ao comer.

Segundo a nutricionista, usar termos técnicos como guia pode trazer riscos para todos, mas principalmente para idosos. Muitos convivem com  problemas de saúde que podem ser agravados ao usar a suplementação errada, exagerar no consumo de alimentos ou até eliminar outros sem recomendação de um especialista, como explica:

É muito comum que a  população idosa conviva com diabetes e, muitas vezes, com algum grau de comprometimento da função renal. Se essa pessoa passa a consumir vários produtos “zero carboidrato” e com muita proteína adicionada, sem avaliação individual, pode haver sobrecarga para rins que já não funcionam tão bem. Com suplementos vitamínicos e minerais, o excesso pode causar hipervitaminoses com sintomas como gastrointestinais até alterações neurológicas, dependendo do nutriente.

Comer bem e saudável é fácil e não precisa ser complicado. Mas, quando houver a necessidade de fazer  ajustes na alimentação ou até recorrer à suplementação, o ideal é procurar ajuda de um profissional habilitado e, segundo a nutricionista, que leve em conta exames, medicamentos em uso e contexto de vida. O caminho mais seguro ainda é procurar um nutricionista para entender as reais necessidades.

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