O Brasil espera ter uma vacina contra a Covid-19, aprovada e pronta para uso em um programa nacional de imunização, até junho, disse nesta quinta-feira o chefe da Anvisa, Antônio Barra Torres.
Com um dos piores surtos de coronavírus no mundo, atrás apenas dos Estados Unidos e da Índia, o Brasil se tornou um campo de testes chave para vacinas e aprovou testes clínicos em estágio final para quatro possíveis imunizantes que estão em desenvolvimento.
Elas estão sendo estudadas pela Universidade de Oxford e a farmacêutica AstraZeneca; pela Sinovac Biotech; pela Pfizer Inc em parceria com a BioNTech; e pela subsidiária farmacêutica da Johnson & Johnson, a Janssen.
Torres disse à Reuters que a Anvisa ainda não decidiu sobre a eficácia mínima a exigir, mas lembrou que a agência já aprovou vacinas para outras doenças, no passado, com menos de 50% de eficácia. Essa taxa é o percentual de pessoas que, tomando o imunizante, ficaria de fato protegido da doença.
As autoridades de saúde na Europa estão debatendo se devem aceitar a chamada taxa de eficácia de menos de 50% para poder entregar uma vacina mais cedo, informou o Wall Street Journal esta semana.
Na semana passada, o presidente Jair Bolsonaro negou a decisão de seu ministro da saúde de comprar 46 milhões de doses de uma vacina da Sinovac Biotech da China, a chamada CoronaVac, alegando que "não compraremos uma vacina chinesa".
Torres, no entanto, disse que a Anvisa pode inscrever mais de um dos quatro candidatos que estão sendo testados no Brasil, independentemente do país de origem.
— A origem da vacina não tem relação com a gente, não tem preconceito — disse.
Dois dias após os comentários de Bolsonaro, a Anvisa autorizou o Instituto Butantan de São Paulo a importar 6 milhões de doses do CoronaVac e na quarta-feira autorizou ainda mais o centro biomédico a importar as matérias-primas para fazer mais 40 milhões de doses no Brasil. Essa estratégia é patrocinada pelo governador de São Paulo, João Doria, adversário político de Bolsonaro.
A Rússia concordou em fornecer sua vacina Sputnik V aos Paraná e à Bahia, mas deve ser primeiro testada e aprovada pela Anvisa. Torres disse que, até o momento, a agência não recebeu nenhum dado ou pedido de aprovação dos protocolos do teste do Sputnik V.
O diretor da Anvisa disse que o Instituto Butantan e o centro biomédico federal Fiocruz, no Rio de Janeiro, têm capacidade para produzir milhões de doses de vacinas para o Brasil e provavelmente para outras nações latino-americanas.
Ele ainda afirmou que a agência está em negociações com alguns países da América Latina para que aceitem o registro de vacinas que serão feitas no Brasil.