Após incontáveis estudos ao redor do mundo, as dúvidas sobre a eficácia da hidroxicloroquina ou da cloroquina contra a Covid-19 começam a se dissipar. Nesta sexta-feira (12) foi publicada uma análise sistemática da Cochrane, a principal referência nesse tipo de análise científica, que descarta a eficácia do medicamento.
A análise, baseada em centenas de estudos já publicados sobre o medicamento, descarta não só não a eficácia dos medicamentos para a prevenção de morte, como também não impede que o quadro do paciente evolua ao ponto de que ele precise de ventilação mecânica. Assim, a droga não seria útil nem contra casos graves, nem para uso precoce.
A publicação também conclui que os estudos publicados até agora já são suficientes para determinar resultados conclusivos, de modo que não há mais necessidade de conduzir mais estudos sobre o tema.
Para selecionar quais estudos entrariam na análise, os avaliadores incluíram os ensaios controlados e randomizados, que são o padrão-ouro nos ensaios clínicos, que testaram tanto a cloroquina quanto a hidroxicloroquina em pessoas com Covid-19, pessoas em risco de exposição à doença e pessoas que efetivamente foram expostas ao vírus.
Segundo a publicação, a hidroxicloroquina, quando comparada a um placebo, “claramente não afetou a quantidade de mortes, provavelmente não alterou quantas pessoas precisaram de ventilação mecânica, pode não ter afetado quantas pessoas ainda testavam positivo para o vírus após 14 dias”. O texto, no entanto, demonstra incerteza se a hidroxicloroquina afetou o número de pessoas cujos sintomas foram aliviados após 28 dias.
Quando usada em conjunto com azitromicina, não houve diferença em mortalidade, tempo de hospitalização ou necessidade de ventilação mecânica em comparação a quem recebeu o tratamento comum, sem os medicamentos.
Entre as pessoas expostas à doença, o artigo declara incerteza se a hidroxicloroquina afetou quantas delas vieram a desenvolver a doença em comparação com um placebo, mas na comparação com o tratamento comum neste grupo, não houve diferença.
O estudo ainda toca no tema dos efeitos indesejados do uso do medicamento, afirmando que, na comparação com um tratamento padrão, a droga “provavelmente aumenta o risco de efeitos indesejados leves”, mas “não deve aumentar o risco efeitos danosos sérios”.
A avaliação levou em conta 14 estudos de alta relevância, sendo que em 12 deles a cloroquina foi usada para tratar Covid-19 em 8.569 adultos e outros dois, com mais 3.346 adultos, para tentar frear a doença entre os pacientes que foram expostos ao vírus.
Como aponta o site MedicalXpress , Tom Fletcher, um dos autores da análise, diz que o material “certamente deve colocar uma definição sobre usar esta droga para tratar Covid-19, mas alguns países e hospitais ainda estão presos no hype anterior e prescrevendo a droga. Esperamos que esta análise ajude a acabar com estas práticas em breve”.