A Anvisa autorizou o uso emergencial de apenas duas vacinas contra a Covid-19 no Brasil: a CoronaVac e a de Oxford
Foto: Reprodução/ Daniel Schludi/ Unsplash
A Anvisa autorizou o uso emergencial de apenas duas vacinas contra a Covid-19 no Brasil: a CoronaVac e a de Oxford

"Eu ainda sou jovem mas, quando chegar a minha vez na fila, vou escolher a vacina com a maior eficácia para tomar, acredito que ficarei mais protegido".

A fala é de um motorista de aplicativo, que preferiu não se identificar. O pensamento dele sobre o processo de imunização contra a Covid-19 no Brasil não é isolado. Com as constantes discussões sobre a diferença de eficácia entre as vacinas contra o novo coronavírus (Sars-CoV-2) , muitas pessoas questionam se um imunizante é melhor do que o outro.

No Brasil, além dos números de proteção, o país de origem das desenvolvedoras se tornaram parte do debate. 

No dia 17 de janeiro, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizou o uso emergencial de duas vacinas no país: a CoronaVac, desenvolvida pela farmacêutica chinesa Sinovac Biotech e a vacina de Oxford, desenvolvida pela Universidade de Oxford e pelo laboratório britânico AstraZeneca.

Posso escolher qual dessas duas vacinas vou tomar?

Até a publicação desta reportagem, a CoronaVac e a vacina de Oxford eram os  dois únicos imunizantes distribuídos no país pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

De acordo com o Ministério da Saúde, à frente do Plano Nacional de Imunização (PNI), uma pessoa não pode escolher o imunizante que vai tomar. "A vacinação acontece nos postos de saúde com a vacina disponível, não havendo possiblidade de escolha", explicou a pasta. Com o avanço da imunização no Brasil, com mais de 4,5 milhões de brasileiros vacinados contra a Covid-19, é comum que pessoas de uma mesma família, por exemplo, recebem doses de imunizantes diferentes.

O médico José Osmar Medina, ex-coordenador do Centro de Contingência da Covid-19 de São Paulo, explica que não há problema nisso. "Temos que utilizar a que tiver disponível, sem nenhum preconceito porque com certeza terá um benefício muito grande para as pessoas vacinadas", disse o especialista. 

A epidemiologista Ethel Maciel, pós-doutora pela Universidade John Hopkins e professora da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), destaca a vanicação precisa ter um olhar coletivo e não individual. "É certo que há vacinas mais eficazes que outras. Mas, o que a gente precisa entender é que a vacina contra a Covid-19 não é como um remédio para proteger individualmente, mas sim uma estratégia coletiva e de saúde pública".

Na prática, ela exemplifica que não adianta uma pessoa esperar para ser vacinada com um imunizante com a eficácia muito alta. "Enquanto isso, o vírus continua a se espalhar e pode sofrer mutações, como já tem acontecido, e aí a vacina, mesmo com a eficácia alta, não vai adiantar. Nesse momento, precisamos de um número alto de imunizados, mesmo que a vacina tenha a eficácia menor", ressalta Ethel. Na sexta-feira (12), a Fundação Oswaldo Cruz alertou que caso o Plano Nacional de Imunização siga no ritmo atual, ele acabará apenas em 2024.

Um imunizante é melhor do que o outro?

O Instituto Butantan anunciou uma eficácia geral de 50,38% da vacina CoronaVac, o índice de 78% para prevenção de casos leves do novo coronavírus e o de 100% para casos moderados e graves da doença. Já a vacina de Oxford apresentou uma média de 70%, dependendo das doses aplicadas (62% - 90%) e 100% contra casos graves da doença 22 dias após a aplicação da primeira dose.

Apesar dos números diferentes dos dois imunizantes, o médico José Osmar Medina diz que ambas são seguras e eficazes. "A melhor vacina é aquela que passou por todos os órgãos regulatórios e esta disponível. Hoje, no Brasil, todas as vacinas disponíveis foram aprovadas, são seguras, sem efeitos adversos e são eficazes", garantiu.

Medina diz ser cedo para apontar a melhor vacina. Ele acrescenta que além da eficácia, também é preciso pensar na efetividade e na eficiência das vacinas. "São dados que só podem ser avaliadas quando os imunizantes forem testados na prática, principalmente por causa das novas variantes do vírus".

Para Ethel, mesmo com a diferença de eficácia contra as formas mais moderadas e leves da Covid-19 entre os dois imunizantes, os números mais importantes são contra casos graves. "Ambas garantem 100% de eficácia contra essas situações. Todas as vezes que a gente demora a vacinar a população brasileira, estamos dando vantagem ao vírus", explicou. 

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