Com as recentes notícias de que pessoas teriam se infectado com a Covid-19 após receber a primeira dose da vacina da Pfizer/BioNTech, é muito provável que você esteja questionando se é possível que isso realmente aconteça.
O portal iG conversou com especialistas sobre o assunto para esclarecer uma das dúvidas mais frequentes sobre o novo coronavírus (Sars-CoV-2). Quanto tempo após a vacina o organismo desenvolve os anticorpos neutralizantes e a imunidade?
O médico José Osmar Medina, ex-coordenador do Centro de Contingência da Covid-19 de São Paulo, afirma que é possível que pessoas sejam infectadas após receberem a vacina, seja a primeira ou a segunda dose.
Nos casos recentes, como em Israel, na Itália e nos Estados Unidos, ele explica a infecção ocorreu após a primeira dose do imunizante porque, provavelmente houve exposicão, e o corpo precisa de tempo para desenvolver os anticorpos.
"A vacina não é 100% eficaz. Existe um grupo pequeno de pessoas que pode adquirir a doença mesmo sendo vacinado com as duas doses. Mas, nos casos recentes, não é essa a situação. Como estamos em uma pandemia e com um número muito acentuado de casos, não deu tempo da primeira dose ter o efeito necessário", destaca o médico.
Medina diz que não há um consenso da comunidade científica sobre o tempo necessário para a imunização, mas calcula que pode levar de três a quatro semanas para o corpo começar a produzir anticorpos depois da primeira dose.
"A segunda dose
é necessária porque ela reforça essa imunidade. E esse tempo do corpo acontece com toda vacina, a da gripe, por exemplo, demora três ou quatro semanas, também", esclarece.
Anthony Fauci, diretor do Instituto Nacional de Alergias e Doenças Infecciosas dos Estados Unidos, diz que a imunidade completa ao novo coronavírus se dá dez dias após a segunda dose de uma vacina.
Após um médico do hospital Umberto I, em Siracusa, na Itália ser vacinado contra o novo coronavírus e testar positivo para a Covid-19, Franco Locatelli, presidente do Conselho Superior de Saúde da Itália, disse, em entrevista à imprensa local, que a proteção imunológica contra a infecção pelo vírus Sars-CoV-2 "só está completa após a administração da segunda dose da vacina anti-Covid-19".
"Em artigos científicos é claramente relatado que mesmo em estudos clínicos as pessoas foram infectadas após a primeira dose, precisamente porque a resposta imunológica ainda não é completamente protetora. E só se torna assim após a segunda dose. Esse é um dos motivos para não abandonarmos o comportamento responsável após a vacinação", alertou.
Eficácia e proteção
A epidemiologista Ethel Maciel, pós-doutora pela Universidade John Hopkins e professora da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), explica que a eficácia das vacinas nos ensaios clínicos é para impedir a evolução da doença grave fatal.
A vacina da Pfizer/BioNTech, por exemplo, tem 95% eficácia, de acordo com os resultados da terceira fase de testes. Durante os ensaios clínicos do imunizante, 20 mil pessoas receberam o antígeno em sua etapa experimental. Dessas, apenas 0,6% sofreram reações alérgicas adversas graves.
No Reino Unido, o primeiro país do Ocidente a iniciar a vacinação, as autoridades sanitárias advertiram que, alguns pacientes com antecedentes de alergias a medicamentos, poderiam sofrer reações adversas. Eles pediram que este grupo de pessoas evitasse receber a vacina, por enquanto.
O grupo farmacêutico britânico AstraZeneca afirmou na última semana que encontrou, após pesquisas adicionais, "a fórmula vencedora" para a vacina contra a Covid-19 desenvolvida em parceria com a Universidade de Oxford.
"Acreditamos que encontramos a fórmula vencedora e como obter uma eficácia que, com duas doses, está à altura das demais", afirmou o diretor-executivo da empresa, Pascal Soriot, ao jornal "Sunday Times". Ele disse ainda que a vacina garante uma "proteção de 100%" contra as formas graves da Covid-19.
Ethel Maciel destaca ainda a diferença entra a eficácia para a infecção e para a doença grave fatal. "Nos dados da AstraZeneca, que tem 62% de eficácia, isso significa que em 100 pessoas, 62 em contato com o vírus não desenvolveriam sinais de sintomas. Os outros 38% desenvolvem. Mas, a vacina também tem eficácia de 100% contra a evolução de doença grave ou fatal. Então, mesmo aqueles 38% que tiverem algum sintoma leve, como febre, dor de cabeça ou coriza, não vão evoluir para uma fatalidade. Essa é a grande proteção da vacina porque hoje, proteger da infecção não é tão importante", explica.
A vida não volta totalmente ao normal após a vacina
A expectativa do mundo é que a pandemia chegue ao fim à medida que as pessoas forem recebendo as vacinas contra o vírus. Mas, para a ciência, não funciona assim.
Medina explica que as medidas de higiene, o isolamento social e o uso de máscara devem permanecer por um bom tempo, principalmente pelo caráter pedagógico.
"Não é assim, tomou a vacina e no outro dia está imunizado. Por exemplo, se todo o mundo, em um dia só, tomasse a vacina, na primeira semana após a imunização seria o mesmo número de casos, como se as pessoas não tivessem sido imunizadas", explica.
Isso porque as vacinas que estão sendo desenvolvidas contra a doença apresentam eficácias variáveis, que vão de 60% a 95%, além da possibilidade de falhas vacinais. Por isso, a orientação da comunidade científica é seguir os protocolos de segurança , já que não se sabe ainda se a vacina será capaz de barrar a transmissão do Sars-CoV-2, ou se apenas impedirá o desenvolvimento da doença em quem tomar as doses.