Segundo especialistas, ritmo lento de vacinação pode aumentar consideravelmente o número de óbitos no país
Renato Alves / Agência Brasília
Segundo especialistas, ritmo lento de vacinação pode aumentar consideravelmente o número de óbitos no país



O número de mortos da pandemia poderá mais do que dobrar no segundo semestre no Brasil, se a vacinação continuar no ritmo atual. No entanto, se 50% da população brasileira for vacinada contra  Covid-19 até junho, 150 mil mortes poderão ser evitadas, assim como uma terceira onda. Os dados são de uma projeção realizada por meio de um modelo matemático, testado com sucesso na primeira onda em São Paulo e que teve a metodologia publicada na revista Nature Communications, com ampla repercussão.

Desenvolvido pelo grupo do matemático Osmar Pinto Neto, da Universidade Anhembi Morumbi, em São José dos Campos, o modelo projeta cenários de como a pandemia vai evoluir nos próximos meses no país. Ele leva em conta tanto a propagação da variante P1 do Sars-CoV-2 , considerada mais transmissível, quanto a vacinação .

Até agora, apenas 2,6% da população receberam as duas doses da vacina , segundo o MonitoraCovid-19/Fiocruz . Mantida essa velocidade, levará cerca de quatro anos e meio ou 1.732 dias até que toda a população receba as duas doses e seja imunizada.  

No ritmo atual de vacinação , os 50% só serão atingidos em 2024 e o coronavírus vai continuar a provocar uma nova matança por dia . De acordo com o estudo, no cenário atual, o país terá uma média móvel de 2.900 mortes diárias no fim de abril. Serão 640 mil brasileiros mortos até o fim do outubro, mantido o ritmo lento. 

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Porém, se 50% dos brasileiros forem vacinados até junho — uma promessa do Ministério da Saúde , que ainda não se provou factível —150 mil vidas poderiam ser poupadas. Neto acrescenta que uma terceira onda poderá ser evitada. Mas, com um volume de vacinação inferior ao prometido, outubro terá uma média móvel de 2.750 mortes por dia, mais do que tem sido registrado nas últimas semanas.

Medidas de distanciamento social e massificação do uso de máscara e da testagem são essenciais para conter o  avanço da pandemia neste momento. Mas só a vacina poderá evitar novas ondas, com ainda mais mortos, diz o matemático.

O modelo empregado simulou mais de 40 mil possíveis cenários que foram calculados a partir da combinação de 29 variáveis, como taxa de transmissão , ritmo de vacinação e taxa de distanciamento social, indicadores de mobilidade, além de dados oficiais que incluem número de mortos e infectados , por exemplo. Para a P1, Neto se baseou em estudos que sugerem que ela pode ser até 75% mais transmissível. 

Um instrumento matemático chamado algoritmo genético foi usado para depurar quais entre os milhares de cenários têm maior probabilidade de acontecer. Esse tipo de tecnologia funciona com êxito para avaliar e projetar flutuações econômicas, por exemplo. 

"O modelo é bastante consistente, parte de uma metodologia sólida e reforça que é preciso vacinar muito e depressa. Ele indica tendências. E a tendência é um alento, se houver vacina. Mas, caso contrário, antevemos um cenário de tragédia ainda maior", afirma Neto, especialista em modelos epidemiológicos.

Ele diz que apenas um lockdown nacional e rígido poderia ajudar deter o avanço da pandemia: "atravessamos o pior momento até agora . Mas as coisas podem melhorar ou se agravar muito de acordo com as decisões tomadas pelas autoridades de saúde. O que fica claro em todos os cenários é que a vacinação salva, mas precisa ser rápida".

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