O Brasil atingiu hoje a marca de 600 mil mortos em razão da pandemia de covid-19 . A variante Delta do novo coronavírus , originária da Índia, foi identificada pela primeira vez no início de julho no Brasil. Desde então, ela se tornou uma variante de preocupação e a segunda cepa dominante em território brasileiro, ficando atrás apenas da Gamma, que surgiu em Manaus.
Além disso, a Delta é a segunda cepa mais dominante no mundo. Em primeiro, está a Alpha, identificada pela primeira vez no Reino Unido, e registrada em 185 países. De acordo com a Organização Mundial da Saúde, a Delta foi registrada em 142 países.
Diante dessa realidade, o iG conversou com um epidemiologista a respeito dos riscos das variantes da Covid-19. Segundo Paulo Petry, Doutor em Epidemiologia, “o principal risco de uma variante é diminuir o efeito de uma vacina, gerar aumento da transmissibilidade e aumentar o nível de mortalidade”.
A Delta chegou com sua forma mais agressiva em muitos países que já haviam avançado na vacinação. Ela aumentou o número de casos e de mortes. Um exemplo disso é Israel, que durante o mês de maio e junho não tiveram nenhum óbito pela doença, mas em julho os casos começaram a subir rapidamente por conta da variante.
Petry explica que o avanço da variante deve-se a flexibilização. “Os países em que a Delta entrou de forma agressiva havia uma vacinação alta, mas as medidas não-farmacológicas já não eram mais obrigatórias. Nos Estados Unidos, por exemplo, a vacinação estacionou porque lá existem muitos movimentos anti-vacinas e em paralelo com uma flexibilização causou uma vulnerabilidade ao vírus”.
Delta no Brasil
Procurado, o Ministério da Saúde não disponibilizou o número de casos da variante Delta no país. No entanto, o iG teve acesso aos dados de São Paulo, que segundo um levantamento feito pelo Instituto de Medicina Tropical da Universidade de São Paulo (USP) e pelo Instituto Adolfo Lutz, 95,2% dos registros da doença foram causados pela variante Delta e 4,06% pela variante Gamma.
Contudo, apesar da alta taxa da variante no estado, o epidemiologista explica que a Delta não chegou no Brasil de uma maneira invasiva.
“A Delta no Brasil não teve aquela velocidade de outros países devido a algumas razões. Uma delas é o andamento da vacinação e a não retirada de medidas não-farmacológicas no país por enquanto. Essas medidas são uso de máscara, lavagem das mãos, álcool em gel e evitar aglomerações”, explica.
O médico acrescenta que “no Brasil, nós suspeitamos que em função da variante Gamma, a Delta não teve muito espaço, pois já havia uma variante dominante no país. Além disso, não houve uma total flexibilização no país. Em conjunto com a vacinação isso desacelera a Delta”.
Variante de preocupação e a variante de interesse
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No momento, a Delta é a variante que mais exige atenção. Ademais, ela é caracterizada como uma variante de preocupação, que significa maior nível de transmissibilidade e maior potencial de adoecimento, segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde).
Nessa categoria, estão também as variantes Alpha, que surgiu no Reino Unido, a variante Beta, da África do Sul, e a Gamma, que é a brasileira.
As variantes de interesse são aquelas que têm um potencial de transmissibilidade e podem alterar a gravidade da doença. Neste grupo, está presente a variante Mu, que surgiu em agosto de 2021 na Colômbia, a Lambda que é do Peru, a variante Kappa, que é também da Índia, e a Iota, que surgiu nos Estados Unidos.
Variante Mu
Apesar de ser uma variante de interesse, a Mu tem ganhado destaque nos últimos meses. Segundo a OMS, houve alguns registros esporádicos de casos desta variante no Brasil , mas os surtos maiores foram relatados em outros países da América do Sul e na Europa, principalmente na Colômbia e no Equador, onde a Mu responde por - respectivamente - 39% e 13% dos casos sequenciados.
Para o epidemiologista Paulo Petry, a Mu “preocupa por ser uma variante nova e não se sabe exatamente o potencial de transmissibilidade e gravidade dela”.
Podem surgir novas variantes mesmo com a população vacinada?
Segundo o médico, sim. Porém, ele afirma que as mutações têm limite. “A notícia boa é que o vírus não tem capacidade ilimitada de mutação, ou seja, terá fim. Não sabemos exatamente quantas ele pode sofrer, mas existe um limite.”
Segundo Petry, com o avanço da vacinação, o vírus vai perdendo a capacidade de infectar as pessoas e consequentemente de se multiplicar. Ele ainda alerta que para chegarmos ao fim da pandemia, é fundamental o uso de máscaras e a vacinação completa.