Mais de duas semanas após o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, afirmar que o Brasil poderia ter registrado os primeiros casos da Deltacron — a combinação da Delta e da Ômicron — ainda não há um resultado conclusivo sobre a chegada no país da nova variante da covid-19 . É a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) quem conduz os procedimentos laboratoriais para confirmar se a infecção é, de fato, uma recombinação genética das duas cepas ou uma coinfecção das duas variantes anteriores.
Integrantes do ministério afirmaram ao GLOBO que o laboratório de referência ainda está isolando o vírus para realizar o sequenciamento genômico, procedimento laboratorial para confirmar o diagnóstico.
O virologista e epidemiologista do Instituto Todos pela Saúde (ITpS), Anderson F. Brito, explica que o que se conhece por Deltacron são três recombinações com características genéticas diferentes, recentemente designadas:
“Detectar recombinação é mais complexo do que atribuir um genoma a uma das linhagens que já foram propostas de antemão. O sequenciamento genético de uma amostra gera fragmentos, que, uma vez montados, levam a geração de um genoma. Ao sequenciar um caso de coinfecção, em que temos ali dois vírus, os fragmentos terão características de um vírus e de outro. Quando uma pessoa é infectada por um vírus híbrido, recombinante de outros dois, também teremos fragmentos que, ora batem com um vírus, ora com o outro.”
Cabe ao ministério e à secretária de Saúde divulgar o resultado, diz a Fiocruz. Segundo interlocutores, não há prazo para conclusão da análise.
“Quando os vírus são muito parecidos, identificar se é coinfecção ou recombinante é tarefa difícil. Tudo dependerá do quão desafiador o caso é e se temos ou não temos outros já decifrados antes, que podem servir de molde para comparações”, detalha o pesquisador, integrante do Pango Network, iniciativa de voluntários que ajudam a classificar novas linhagens de coronavírus.
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Questionadas pela reportagem por e-mail e por telefone desde a semana passada, a pasta, a Fiocruz e a Secretaria de Saúde do Estado do Pará (SES-PA) informam não ter atualizações sobre o resultado.
"O caso suspeito identificado no Pará permanece em investigação e não houve nenhum registro de novo caso", diz a nota do ministério.
Como antecipado pelo GLOBO, o ministério descartou a primeira infecção em potencial por Deltacron. Testes da Fiocruz demonstraram que o paciente havia sido contaminado ao mesmo tempo pela Delta e pela Ômicron, duas variantes de preocupação. O resultado saiu em 18 de fevereiro.
Três dias antes, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, havia confirmado a detecção de dois casos de Deltacron no Brasil. Documento obtido pela reportagem indicava, na data, que o resultado dos sequenciamentos genéticos feitos pela Fiocruz para determinar se os casos até então sob suspeita ainda precisavam ser confirmados por meio de outros procedimentos laboratoriais.
Em seguida, o cardiologista recuou e afirmou que os casos ainda estavam em análise:
“O caso está em análise. Havia recebido a informação que os casos estariam confirmados, mas a área técnica posteriormente me informou que a confirmação definitiva sairia somente na sexta. Todavia, conforme falei na entrevista pela (terça de) manhã, mesmo que haja a confirmação, não alterará o cenário epidemiológico vigente”, afirmou Queiroga ao GLOBO na ocasião.
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