Em apenas uma década, a taxa de obesidade no Brasil dobrou em porcentagem, acometendo hoje nada mais nada menos que 20% da população adulta, de acordo com m dados da pesquisa Vigitel, realizada periodicamente pelo Ministério da Saúde. Isso significa que dois em cada dez brasileiros apresenta índice de massa corporal, o famoso IMC, a partir de 30. Para a maior parte destas pessoas, emagrecer - e manter o peso perdido - apenas com alterações comportamentais, como dieta e atividade física, é uma tarefa quase impossível.
"A probabilidade de um paciente obeso perder 10% do peso apenas com essas alterações é muito pequena. Além disso, em até dois anos, 90% desses pacientes recuperaram o peso inicial, explica Antonio Carlos do Nascimento, doutor em endocrinologia pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Nestes casos, o uso de medicamentos é fundamental para ajudar na perda de peso de forma significativa e duradoura".
Na quinta-feira, 14, o Supremo Tribunal Federal (STF) proibiu a comercialização de três inibidores de apetite, a anfepramona, femproporex e mazindol. No entanto, na prática, essa decisão não impacta o tratamento de pacientes obesos. Desde que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) suspendeu o uso desses anorixerígenos, em 2011, eles foram praticamente abolidos das prescrições. Isso se manteve após a liberação da venda dessas substâncias pelo Congresso, em 2017.
"Essas medicações praticamente não voltaram para o comercio habitual porque estavam sendo comercializados em pouquíssimas farmácias de manipulação", afirma a endocrinologista Maria Edna de Melo, presidente do departamento de Obesidade da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM).
Nesse período, outros medicamentos, mais eficazes e com menos efeitos colaterais, chegaram ao Brasil e passaram a ser indicados para o tratamento da obesidade. Os principais são a liraglutida e a semaglutida, que imitam no organismo o hormônio GLP-1, ligado à produção de insulina e à sensação de saciedade. Além disso, também estão disponíveis a sibutramina, que é o medicamento emagrecedor com registro válido mais antigo no Brasil, e o orlistat.
A liraglutida e a semaglutida são considerados os medicamentos mais modernos e eficazes para o tratamento da obesidade. Originalmente desenvolvidos para o diabetes tipo 2, seu uso como potente emagrecedor logo foi descoberto e incorporado à prática clínica. Em 2021, a liraglutida se tornou a substância mais prescrita nos consultórios particulares de endocrinologia.
A semaglutida teve seu papel comprovado contra a obesidade comprovado no início deste ano, quando um estudo publicado na reputada revista The New England Journal of Medicine mostrou que o medicamento conseguiu reduzir em 15% o peso de pessoas com obesidade e evitar muitas de suas piores consequências, incluindo o diabetes. Além disso, mais de um terço dos participantes que recebeu a droga perdeu mais de 20% do peso, o que é uma taxa só vista de um a três anos após a cirurgia bariátrica.
Apesar da polêmica sobre possíveis efeitos colaterais, em especial ao sistema cardiovascular, associados ao seu uso, a sibutramina, continua sendo para o tratamento da obesidade, segundo a endocrinologista Maria Edna de Melo. A medicação age diretamente no cérebro, na noradrenalina e serotonina.
Neurotransmissores que participam da regulação de diversas funções, como humor e sono, além do apetite. Já o orlistate age diretamente no intestino, inibindo de forma parcial a atividade de enzimas responsáveis pela digestão das gorduras. Essa ação localizada faz com que sua eficácia seja mais baixa que a das outras medicações.
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Seja qual for a estratégia de tratamento escolhida, ela deve ser sempre indicada pelo médico, que irá avaliar a melhor opção para o paciente, considerando os riscos e benefícios envolvidos. A sibutramina, por exemplo, não é indicada para pessoas com problemas cardiovasculares e idosos. A liraglutida e a semaglutida são especialmente vantajosas para pessoas com obesidade e diabetes tipo 2, já que atua nas duas doenças.
A obesidade é uma doença que não tem cura. Por isso, na maioria dos casos, os medicamentos são de uso contínuo.
"É um tratamento constante porque o paciente não estará curado da doença, e sim a terá sob controle, ressalta Nascimento. Embora sejam pouco eficazes de forma isolada, as alterações comportamentais são parte fundamental para a manutenção da perda de peso no longo prazo".