Neste mês, foi liberada no Brasil a comercialização de uma nova vacina contra o HPV, o papilomavírus humano, capaz de prevenir nove tipos — cinco a mais do que a quadrivalente, aprovada no país há cerca de 10 anos. O novo imunizante , que já estava disponível em outros países, como os Estados Unidos, é fabricado pela farmacêutica MSD e custa entre R$ 800 e R$ 950 a dose.
O HPV é um vírus que infecta a pele ou as mucosas e pode provocar verrugas na região genital e do ânus em homens e mulheres, além de câncer , dependendo do tipo de vírus. A infecção pelo papilomavírus humano é uma Infecção Sexualmente Transmissível (IST), mas que, na maioria das pessoas, não apresenta sintomas.
Em alguns casos, o HPV pode ficar de meses a anos sem se manifestar. Geralmente, os primeiros sinais surgem entre dois a oito meses após a infecção pelo vírus , mas também podem demorar até 20 anos para aparecer.
Segundo a Diretora Médica da MSD Brasil, Marcia Datz Abadi, vacinar-se contra o HPV é a medida mais eficaz de prevenir a infecção. Embora o imunizante seja indicado para ambos os sexos entre 9 e 45 anos, o melhor momento para receber a vacina é antes do início da vida sexual e de ter contato com o vírus.
"Isso não significa que quem já teve contato não se beneficiará da imunização, uma vez que o contágio com outros tipos de HPV pode acontecer durante toda a vida da pessoa sexualmente ativa. Por meio da vacinação, é possível impedir as infecções pelos tipos de HPV contidos nas vacinas, os quais são os maiores responsáveis pelas doenças e cânceres relacionados ao HPV", afirma a oncologista.
Ana Paula Moschione Castro, alergista e imunologista pela USP, ressalta que, desde que respeitada a faixa etária estabelecida, a pessoa que já deu início à vida sexual também deve ser vacinada contra o vírus. "O imunizante contra o HPV ajuda a prevenir o câncer de colo de útero, associado ao Papanicolau recorrente e a sexo com proteção, mas também protege contra o câncer de pênis, de ânus e boca", afirma a diretora da Clínica Croce.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS) , o HPV é responsável por mais de 95% dos casos de câncer de colo de útero .
No Brasil, excluindo os tumores de pele não melanomas, o câncer de colo uterino é o terceiro mais incidente entre as mulheres. Segundo dados do Instituto Nacional de Câncer (Inca) , são estimados 17.010 casos novos para o ano de 2023, ou seja, 13,25 casos a cada 100 mil mulheres.
O país terminou 2022 sem cumprir a meta de vacinar 80% do público entre nove e 14 anos — idade contemplada pelo Sistema Único de Saúde (SUS) — contra o vírus, que deve receber duas doses do imunizante . Conforme o Ministério da Saúde, 57,44% das meninas tomaram as duas doses, enquanto, entre os meninos, a taxa foi de 36,59%.
Na rede pública, a vacina administrada hoje é a quadrivalente, disponível para ambos os sexos de 9 a 14 anos, além de homens e mulheres imunossuprimidos de 9 a 45 anos, que vivem com HIV/ Aids , transplantados de órgãos sólidos ou medula óssea e pacientes oncológicos. Ela protege contra os tipos 6, 11, 16 e 18 do HPV.
Embora continue tendo eficácia na prevenção do vírus, a nonavalente oferece ainda mais proteção. Além dos quatro tipos de HPV já cobertos pela quadrivalente, o novo imunizante também protege contra os tipos 31, 33, 45, 52 e 58.
Mesmo as pessoas que já tomaram as doses necessárias de outras vacinas —seja da quadrivalente ou da bivalente, já descontinuada no Brasil —, a recomendação da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBI) é que elas sejam revacinadas com a nonavalente, e que, sempre que possível, o novo imunizante seja priorizado.
A nonavalente, hoje, está disponível somente na rede privada. A MSD Brasil, porém, informou ter a intenção de incluir a nova tecnologia no Programa Nacional de Imunização (PNI) do SUS . "Nossa expectativa é que isso aconteça nos próximos anos", informou a Diretora Médica da farmacêutica.
O iG entrou em contato com o Ministério da Saúde para saber se há uma previsão de quando o imunizante ficará disponível na rede pública de saúde, mas não obteve retorno até a publicação desta reportagem.
Exames também são aliados da prevenção
Além da vacinação, os exames preventivos contra o HPV são de grande importância, como o Papanicolau , que é o mais comum para identificação de lesões precursoras do câncer de colo de útero .
"Esse exame dá oportunidade de diagnóstico de lesões precursoras e do câncer de colo de útero inicial, entretanto, não previne a infecção pelo HPV. Apesar de não ser capaz de diagnosticar a presença do vírus, é o melhor método para detectar câncer de colo de útero e suas lesões precursoras", afirma Marcia Abadi. "Quando essas alterações que antecedem o câncer são identificadas e tratadas, é possível prevenir a maioria dos casos, por isso, é muito importante que as mulheres façam o exame de Papanicolau regularmente."
O uso do preservativo em relações sexuais também previne a maioria das ISTs , mas seu uso não impede totalmente a infecção pelo HPV, explica a médica. "As lesões podem estar presentes em áreas não protegidas por eles, como a vulva, região pubiana, perineal ou bolsa escrotal."
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